Portal da Família
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Famílias numerosas: por que não? |
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Marcelo Guterman |
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Fraldas descartáveis: R$ 0,60 x 6.000 fraldas = R$ 3.600 Médicos: R$ 200 x 70 consultas = R$ 14.000 Escola: R$ 1.000 x 180 mensalidades = R$ 180.000 Faculdade: R$ 1.500 x 48 mensalidades = R$ 72.000 Carro: R$ 40.000 Manutenção + combustível do carro: R$ 5.000 x 6 anos = R$ 30.000 Total = R$ 339.600
Fora as roupas, baladas, viagens e outras cositas mas necessárias ao sustento do rebento até que complete 24 anos de idade. Isso se o pimpolho não resolver que a casa dos pais está muito bem, então para que sair, não é mesmo? Em vista desses montantes astronômicos, não é de se admirar que a maior parte dos casais se pergunte: como é possível sustentar um filho nos dias de hoje? Nos dias de hoje... Essa expressão, repetida diuturnamente por todos quantos defendem a impossibilidade de se sustentar uma família grande nos dias de hoje, sempre me intrigou. “Nos dias de hoje” embute a idéia de que antigamente era mais fácil levar uma família para frente. E por quê? Aqui vai uma boa dose de nostalgia: porque o mundo era menos violento, menos competitivo, as pessoas se contentavam com menos, a vida era, enfim, mais simples. E mais barata. Mas será que é isso mesmo? Lembro-me de quando minha primeira filha nasceu. Era o início da década de 90, o país ainda bastante fechado para importações (se você acha que o Brasil é fechado hoje, você não viu nada...). Fraldas descartáveis eram coisa de rico. Muito caras. Não havia competição externa, muito menos chinesa, e os fabricantes locais cobravam o que queriam. A classe média ainda usava as fraldas de pano. Até aprendi a fazer as dobras: havia um tipo para os meninos e outro para as meninas. Um charme. Até, claro, o momento de lavar as fraldas... Hoje em dia, as fraldas descartáveis estão ao alcance até de famílias com renda modesta. Este é um exemplo de como a vida, nos dias de hoje, é mais fácil do que no passado. Exceção? Vejamos o que temos hoje, e que a geração de nossos pais não tinha: forno de microondas, internet, máquina de lavar louça, computador, TV a cabo, praça de alimentação no shopping, leite longa vida, e uma longa lista de etcéteras. Cada uma dessas tecnologias, umas mais outras menos, facilitam enormemente o dia-a-dia das famílias. Como então dizer que nos dias de hoje é mais difícil criar os filhos? A questão é o outro lado da moeda de todas essas facilidades: é preciso dinheiro para adquiri-las. Como já dizia alguém, a medicina do futuro permitirá que o homem viva 200 anos: bastará apenas escolher o homem que receberá todas as caríssimas benesses da medicina que permitirão este feito. Portanto, o grande problema dos dias de hoje é que o mundo está cada vez mais competitivo, e preparar um filho para ter sucesso nesse mundo requer muito, mas muito dinheiro. Neste ponto, os dias de hoje diferem radicalmente dos dias de nossos pais e avós. Pagar colégios de ponta já não é o bastante. É preciso prever o inglês, o mandarim, as aulas de música, de dança, o judô, a natação. Além, é claro, do intercâmbio internacional e, coroando o processo, uma pós-graduação no exterior. Pronto, está criado o Robocop do mercado de trabalho, invencível em qualquer processo de seleção de emprego. Não que eu condene, por princípio, as aulas de balé ou as viagens de intercâmbio. São todas atividades muito saudáveis, e que realmente acrescentam algo ao nível humano de nossos filhos. A questão é colocar o aumento do poder de competição como o objetivo final da educação das crianças. Então, de fato, não há dinheiro que chegue. Sob este aspecto, quanto menos filhos, melhor. Mas será este o objetivo mais nobre da educação? Crescer como ser humano, equilibrado, honesto, capaz de perdoar e pedir perdão, forte na dor. Enfim, educar para as virtudes. Esse parece ser um objetivo que vale a pena. O dinheiro conseguido em um bom emprego vem e vai. As virtudes ficam, pertencem ao homem, e seguem com ele até o fim de sua vida. Se este é o objetivo de educação que você tem para os seus filhos, então o número trabalha a seu favor. Não que uma família com poucos filhos não possa educá-los exemplarmente. Mas uma família numerosa facilita a tarefa. Com muitos irmãos, é natural ter que compartilhar, ajudar, ouvir, ceder, negociar. A vida fica um pouco mais difícil, pois os meios econômicos não são abundantes, e assim as virtudes vão naturalmente se forjando. Obviamente, dinheiro continua sendo um ponto a ser considerado. Mas dentro dessa nova escala de valores, matricular os filhos em uma escola um pouco mais em conta passa a não ser um crime de lesa-competitividade. Além do mais, sempre há ganhos de escala: a mensalidade do quarto filho costuma sair quase de graça, dependendo da escola. Podem existir vários motivos para limitar o número de filhos: limitações psicológicas do pai ou da mãe, um filho excepcional, encargos familiares graves. Para uma família de classe média, no entanto, o fator econômico não costuma ser um limitante até o quarto ou o quinto filho. Enfim, é possível sim pensar em uma família acima do padrão pai-mãe-filho-filha nos dias de hoje. Basta que a escala de valores seja ajustada, e a preocupação pelo futuro não tome ares de melodrama. |
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Marcelo Guterman é CFA (Chartered Financial Analyst), Engenheiro, Executivo do mercado financeiro, Professor do MBA de Finanças do IBMEC e pai de 7 filhos. É criador do Blog do Dr. Money, onde passa conceitos e dicas sobre Finanças Pessoais de maneira leve e divertida (www.drmoney.com.br). e-mail: marcelo.guterman@uol.com.br Publicado no Portal da Família em 25/04/2007 |
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