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Eu não sei quem matou Taís

Pedro Martins de Oliveira

Alguém me perguntou quem eu achava que havia matado Taís. Matado quem?

Taís morreu? Sim, sei que se tratava do grande mistério da novela das oito. Não assisti um minuto sequer, mas é impossível não saber das polêmicas da novela, a menos que se fique trancado em casa sem luz.

Ainda assim, corre-se o risco de um vizinho bater na porta e perguntar sobre o misterioso assassinato. Os portais na internet incentivam o debate (?) com pesquisas interativas, o Jornal Nacional se ocupa da questão, e como sempre, o grande assunto da semana acaba sendo o final da novela.

Não é minha intenção (ainda que eu ache uma excelente idéia) pregar o fim das novelas. As novelas estão aí, os filmes estão aí, e este fato não os torna um mal. Evidente que o conteúdo, os temas, as cenas, sim, podem ser um grande mal. Mas isso é assunto para outro texto.

A questão que me fez refletir é a relevância da polêmica gerada pela novela, tendo em vista uma idéia cada vez mais consolidada: a de que"hoje em dia ninguém mais tem tempo". Todos se queixam que trabalham demais, que os estudos os consomem demais (colégio, faculdade, pós, etc), que não têm tempo para passear, não têm tempo para dedicar aos filhos (ou sequer para ter filhos), não têm tempo para ficarem sozinhos, e se segue numa lista imensa sobre a falta de tempo. Isso quando não serve de desculpa contra "aquele chato" que faz um convite, aquele evento que não queremos participar, enfim, a falta de tempo parece nos absolver de muitas outras faltas.

No entanto, me surpreende que a maioria dos que compram (ou pior, vendem) o discurso da falta de tempo dediquem uma hora ou mais, seis ou sete vezes por semana, à novela. Me surpreende que se programe a sexta-feira ou o sábado em função do último capítulo da novela. E seria de se surpreender, mas afinal de contas não há como, que o assunto nas rodas de amigos, no trabalho, seja o misterioso assassinato de Taís. Ou o destino da "glamourosa" prostituta da novela.

Não se dão conta de que nessas quase 10 horas semanais, está o tempo que não se tem. Precisamente naquela hora diária, está o livro que não se lê. Naqueles míseros minutos, o que falta de atenção aos filhos. O que fazer? Claro que não temos poder sobre a existência das novelas, mas temos o super-poder do controle remoto.

Normalmente, nesses dias que antecedem grandes finais de novelas, big brothers e afins, tenho uma certa sensação de alívio por não saber quem é quem. Nessas horas, me sinto bem por não ter opinião a respeito de nada. A novela terminou e continuo sem saber quem matou Taís.




 

Pedro Martins de Oliveira, Administrador de Empresas

Publicado no Portal da Família em 09/10/2007

 

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