Portal da Família
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MEU FILHO É UM IRRESPONSÁVEL |
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Teresa Artola González |
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SITUAÇÃO FAMILIAR: João é um irresponsável Inácio e Paula têm três filhos: Pedro de 11, João de 9 e Marta de 5 anos. Quem mais lhes preocupa é o segundo: João, que, como dizem seus pais, “é um irresponsável”. Não entendem o que é que estão fazendo de errado para que seu filho não assuma responsabilidades. O mais velho, Pedro, é totalmente o contrário: é um menino muito maduro que tira notas maravilhosas e ao qual nunca é preciso lembrar-lhe para que faça seus deveres ou termine seus trabalhos. Com João, a situação é bem diferente e desesperadora, segundo sua mãe. Ontem mesmo, quando Paula chegou em casa encontrou a bicicleta nova, que tanto esforço lhe custou comprar no Natal, jogada na frente da porta da garagem com a corrente quebrada. Com certeza não guardou seu material, que é a única obrigação que tem em casa, e ao abrir a porta de casa, Paula encontrou-se com um brinquedo jogado e se apressou para recolhê-lo antes que Inácio chegasse e houvesse uma bronca. Quando lhe pede que faça algo sempre diz que ”vai fazer”, mas a maior parte das vezes nem se incomodou em escutar-lhe. Por isso, sua mãe sempre acaba pedindo as coisas para Pedro. É muito mais prático que insistir uma e outra vez com João. Continuamente se esquece das coisas e perde tudo Quando Paula vai buscar as crianças no colégio ele nunca está pronto e não há forma de encontrar-lhe: ou desceu ao campo de futebol, ou foi à classe porque esqueceu algo ... e sempre perde mais de meia hora até que o localiza, o coloca no carro e, enfim, podem ir para a casa. Continuamente perde as coisas: os livros do colégio, a roupa de esporte, a lancheira ... Na hora de fazer os deveres sempre é preciso lembrá-lo várias vezes e vigiar-lhe para que não se levante continuamente enquanto os faz. Às vezes demora toda a tarde: entre sentar, procurar o lápis, que certamente perdeu, chamar sua mãe ou a algum amigo porque não se lembra do que tinha de dever, encontrar o livro ... Seu tutor disse a Paula que era conveniente que ele tivesse algumas responsabilidades ou encargos em casa. Paula tentou durante algum tempo mas, ao fim, desistiu. João era o encarregado de tirar o lixo, mas praticamente todos os dias era o pai que o acaba fazendo. Em várias ocasiões, Paula encontrou o lixo espalhado pelo jardim, já que João deixou na porta e o cão remexeu o lixo. Outras vezes dava desculpas: “é que estou gripado”, “é que não vai dar tempo de fazer os deveres ...”, “é que não me lembro”... enfim. Inácio decidiu que lhe supõe menos esforço fazê-lo que repetir a João centenas de vezes que faça seus encargos. Ah sim, mas quando tem uma partida de futebol ou uma festa de aniversário, disso não se esquece. E se alguma vez seu pai lhe prometeu algo que lhe interessa, o lembra até não poder mais se esquecer. Paula se pergunta como o esquecido pode ser tão seletivo. No colégio, os professores se queixam do mesmo: Há que repetir-lhe as coisas centenas de vezes para que se inteire e já tem um grande número de faltas por chegar tarde, esquecer o material, esquecer a roupa de esporte ... Acha que é uma pena porque é um menino inteligente que, quando quer, aprende rápido. Quando seus pais brigam com ele por ter esquecido algo ou não cumprir com sua responsabilidade, sempre tem alguma desculpa. “É que ...” é sua palavra favorita. Quando, após muita insistência, vai arrumar seu quarto, sempre deixa as tarefas pela metade ... Inácio e Paula se perguntam se com a idade a situação mudará. Se algum dia João colocará a cabeça no lugar. Lhes preocupa seu futuro: Que tipo de adulto pode surgir de uma criança que é incapaz de responsabilizar-se de nada? E não sabem como atuar. Meu filho é suficientemente responsável? É possível que a história de João lhe pareça, ao menos em parte, familiar. Lhe proporemos que pare um pouco para pensar e faça este teste para saber se seu filho é suficientemente responsável. 1 – É necessário lembrar-lhe continuamente de suas tarefas para que as faça? 2 – Ele faz as coisas mas sem saber por quê? 3 – Quando faz algo errado, joga a culpa nos demais sistematicamente? 6 – Se deixa levar pelas decisões que tomam as demais pessoas do grupo dos quais participa (turma, família, companheiros ...)? 7 – Desobedece e ignora os limites impostos pelos pais ou professores? 8 – Discute com freqüência as ordens que lhe dão? 9 – Lhe custa concentrar sua atenção em tarefas complicadas durante certo tempo?
Se respondeu afirmativamente ao menos a três destas questões, é interessante continuar lendo o que resta deste texto. O que significa ser responsável?
Ser responsável não é, portanto, o mesmo que ser obediente ou dócil. Algumas crianças aparentam ser responsáveis e normalmente fazem o que lhes é dito, entretanto quando desaparece a vigilância dos pais ou dos educadores, atuam de forma bem diferente. Nestes casos, o que move a criança a atuar geralmente se encontra fora: é uma motivação externa à criança como, por exemplo, obter um prêmio ou escolher um castigo. Por exemplo, é possível que João aceite tirar o lixo e lembre de fazê-lo se seu pai lhe castiga e o deixa sem sair no fim de semana por não fazê-lo. Entretanto é provável que, se seu pai está viajando e não pode controlar-lhe, João se “esquece” nesse dia de tirar o lixo. Quando uma criança assume suas responsabilidades não necessita que seus pais ou professores lhe digam continuamente como tem que atuar. A criança deve ser capaz de decidir por si própria levando em consideração as vantagens e inconveniente de sua decisão.
Ser responsável implica que a criança seja capaz de valorizar a situação na qual se encontra tendo em conta tanto suas próprias necessidades e desejos como as exigências de seus pais e professores e que seja capaz por si própria de tomar uma decisão e atuar da forma adequada. Uma atuação responsável supõe, portanto, uma aceitação pessoal da tarefa e uma motivação interna para levá-la a cabo. Para que isto ocorra é importante proporcionar à criança um ambiente no qual lhe é oferecida esta informação sobre as opções a escolher e as conseqüências de cada uma delas e que lhe proporcionem os recursos necessários para escolher bem. Portanto, não há responsabilidade sem liberdade. Os pais não devem limitar-se a dizer a seus filhos o que têm que fazer, mas ajudar-lhes a tomar suas próprias decisões colocando-lhes frente a suas responsabilidades.
Muitos pais se queixam, hoje em dia, de que não conseguem que seus filhos atuem responsavelmente, em especial quando estes chegam à adolescência. Também, os meios de comunicação continuamente nos brindam exemplos sobre a falta de responsabilidade dos jovens, o crescimento da delinqüência juvenil ... É evidente que a sociedade atual não é a mesma que a de nossa infância. Certamente não devemos jogar a culpa de todas estas mudanças à sociedade, ao ambiente ... Devemos ter muito presente que a maior parte das atitudes se aprendem no seio da família.
Ensinar nossos filhos a ser responsáveis é uma avaliação importante para nós seus pais. Um filho responsável será capaz de viver sua liberdade, tomar as rédeas de sua própria vida e tomar suas próprias decisões. A melhor forma de consegui-lo é criando em nosso lar um ambiente no qual tenham liberdade, com nosso apoio, para escolher, ensinando-lhes a escolher bem e a assumir as conseqüência de suas própria decisões. |
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Fonte: Livro “Como resolver situações cotidianas de seus filhos de 6 a 12 anos” TERESA ARTOLA GONZÁLEZ é doutora em Psicologia pela Universidade Complutense de Madri e Master em Educação Familiar pelo E.I.E.S (Educational Institute of Educational Sciences). Desenvolve um amplo trabalho de pesquisa e docente no campo da Psicologia Infantil e é professora da Escola Universitária Europea da Educação de Fomento de centros de Ensino. É autora de diversas publicações em sua maior parte dedicadas aos problemas de aprendizagem, sua avaliação e tratamento. |
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Publicado no Portal da Família em 30/10/2007 |
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