Na nossa família as decisões para o Ano Novo eram uma espécie de brincadeira inventada pela Tia Cecília.

Todos nós escrevíamos os nossos bons propósitos para o Ano Novo e os entregávamos a ela num envelope fechado, no jantar do Réveillon. Depois a graça era no dia 1º de abril, quando os envelopes eram abertos e a família reunida funcionava como um bem alimentado tribunal para julgar de que modo as decisões haviam sido mantidas.

Lembro-me de um ano em que a Tia Lourdes havia resolvido não falar mais da vida alheia. Ao ser aberto o envelope dela, a família inteira quase morreu de rir, lembrando-lhe tudo quanto ela havia contado sobre os vizinhos. Houve também o ano em que papai prometeu deixar de tomar cerveja e não deixou. E a isso se seguiu o ano em que mamãe resolveu não implicar mais com ele para deixar de tomar cerveja... e ele deixou !

Mas acho que o mais interessante era o modo pelo qual a Tia Cecília procurava incutir hábitos de ações acertadas na geração mais nova.

Decidíamos não bater portas, não gritar lá de cima perguntando as horas, não largar roupas pelo chão, manter as coisas nos lugares certos e não nos esquecermos de regar as plantas.

Tudo isso aconteceu há anos, mas até hoje não posso comer um bom jantar sem me lembrar de alguma velha decisão e imediatamente renová-la: escrever aquela carta que venho adiando, ou arrumar as gavetas da minha escrivaninha.

Atualmente, é claro que as grandes reuniões de família não são tão comuns como antes, mas se a sua família se reúne no Dia de Ano Novo, experimente a brincadeira da Tia Cecília. Ela diverte um bocado – e pode, igualmente, fazer algum bem.