Portal da Família
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O INDULTO DE NATAL NAS EMPRESAS |
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Floriano Serra |
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Através dos muitos contatos que tenho mantido ao longo dos anos com profissionais de outras empresas, fico sabendo que há profissionais que guardam tanta raiva ou ressentimento contra colegas de trabalho, que não querem nem ouvir falar no nome do "inimigo". Tais pessoas exercitam esses sentimentos em vários níveis de aversão: há desde aqueles que apenas torcem o nariz quando o outro se aproxima, até aqueles que alimentam contra ele verdadeiro ódio silencioso. Naquelas empresas, há colegas que estão irremediavelmente "condenados". Por mais que ali se fale e se escreva sobre espírito de equipe, integração, trabalho em grupo - pode-se perceber, em muitos desses casos, que o emocional fala mais alto que o bom senso e assim é rompido aquele elo da corrente organizacional que garante a boa qualidade do clima e o fluxo produtivo do trabalho. Em conseqüência ,perde-se energia positiva, produz-se energia negativa, os sorrisos tornam-se escassos, o silêncio substitui o diálogo, os grupos de almoço e cafezinho se tornam duplas - e o clima fica tenso, ressentido, frágil, improdutivo. Foi pensando nessas coisas que me ocorreu a idéia de propor a todos os profissionais, a todos os trabalhadores do Brasil, em todos os níveis, um indulto de Natal nas empresas. Pensei num indulto de Natal nas empresas como forma de serem recuperadas e retomadas amizades, parcerias e coleguismos interrompidos por algum "crime" - às vezes involuntário, inconsciente ou cometido por mal-entendidos, imaturidade ou competição tola. A vida é feita de encontros e a cada eventual desencontro deveria corresponder um reencontro. A relação humana, além de enriquecedora pela ajuda mútua e pela troca de experiências, proporciona o que de mais gratificante as pessoas podem conceder-se entre si: afetividade, calor humano, apoio à auto-estima e solidariedade. Obter esses benefícios não é difícil: basta uma pitada de empatia e outra de respeito às características pessoais de cada um. Conviver com as igualdades é fichinha. A arte do bom relacionamento está em conviver com as diferenças individuais e fazer delas complementação e não motivo de confronto. Li em algum lugar que, durante a era glacial, muitos animais morriam por causa do frio intenso. Os porcos-espinhos, percebendo esta situação, resolveram se juntar em grupos. Assim, agasalhavam-se e protegiam-se mutuamente. Mas os espinhos de cada um feriam os companheiros mais próximos, justamente os que forneciam calor - e por isso tornavam a se afastar uns dos outros. Voltaram a morrer congelados e perceberam que precisavam fazer uma escolha: ou desapareceriam da face da Terra ou aceitavam os espinhos do semelhante. Com sabedoria, decidiram voltar e ficar juntos. Aprenderam assim a conviver com as pequenas feridas que uma relação muito próxima podia causar, já que o mais importante era o calor do outro. E assim sobreviveram até os nossos dias. Minha argumentação ao propor o indulto de Natal nas empresas poderia ser simplesmente a da sobrevivência profissional, como, por analogia, na parábola acima. Afinal, empregos são preservados quando as metas são atingidas - e isso só se consegue quando a equipe trabalha unida, sem "culpados" e "inocentes". Mas, idealista que sou, prefiro usar as razões do coração. Não está em risco a preservação da espécie humana; está em risco a sobrevivência afetiva e emocional das pessoas no trabalho. Somos todos iguais em essência e todos cometemos erros e enganos, mas não devemos permitir que esses equívocos naturalmente humanos ponham a perder o que temos de mais transcendente em nossa espécie: a capacidade de compreender, perdoar e amar o próximo. O indulto de Natal nas empresas, conforme proponho, não precisa de edital nem de publicação no "Diário Oficial". O meu indulto precisa apenas de alguém que dê o primeiro passo, que tome a iniciativa de estender a mão, que seja o primeiro a ir até a mesa do outro convidá-lo para o almoço ou para um cafezinho - fazendo essa sncera proposta de paz com um largo sorriso no olhar e nos lábios. A outra opção é deixar que se aproxime na empresa uma nova Era Glacial afetiva. Quem optar por esta, vai ficar sabendo o que significa sentir frio no coração. E isto não faz bem em nenhuma época do ano – mas principalmente no Natal. |
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Floriano Serra é psicólogo, escritor e palestrante, autor de vários livros e artigos sobre o comportamento humano nas empresas. Foi diretor de Recursos Humanos em empresas nacionais e multinacionais, recebendo vários prêmios pela excelência em Gestão de Pessoas. É autor de uma dezena de livros, como "A Empresa Sorriso" e "A Terceira Inteligência", e mais de 200 artigos sobre o comportamento humano - pessoal e profissional, publicados em websites, jornais e revistas, inclusive no Exterior.
Publicado no Portal da Família em 12/12/2007 |
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