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O Natal não engana
Pedro Afonso

Esta época do ano cria na maioria das pessoas um apelo maior para o consumo, que por vezes chega a ser frenético. Basta observar a correria às lojas e aos centros comerciais um pouco por todo o lado. Os objetos cada vez mais sofisticadamente atraentes convidam ao impulso irresistível de os comprar.

Ao mesmo tempo, o espírito natalício impele-nos a uma solidariedade de certo modo artificial, e que, no resto do ano, em muitos casos não é de fato continuada. São inúmeras as campanhas de apoio – normalmente dirigidas a crianças. Não há rádio, jornal ou televisão que se preze, que não tenha uma. É caso para dizer: se fizermos ambas as coisas, agradamos a Deus e ao diabo!

O país irá viver as próximas semanas nesta dicotomia, encerrando mais um ciclo, e, no fundo mais uma rotina, entre muitas outras. Enfim, tudo isto acaba por ser um sinal de uma sociedade enferma que rejeita cada vez mais as utopias, que desvaloriza a introspecção, e é impelida para o consumismo, quer seja ele do âmbito material ou das preocupações sociais descartáveis.

Lamentavelmente, muitas pessoas já não buscam a felicidade; procuram distrair-se. Durante o ano vivem enfadadas, num tormento indefinido, contudo incomodo. Assim, encetam várias tentativas de libertação: o ginásio, as compras, a cirurgia plástica, as férias no estrangeiro, etc. O esforço, porém, revela-se infrutífero, uma vez que ao fim de algum tempo o fantasma reaparece. Muita gente vive envolta num “nevoeiro psíquico”, mas o Natal dissipa-o e põe a descoberto o que cada um carrega no seu íntimo.

Por essa razão, esta é uma altura difícil para alguns, trazendo ao de cima traumas, frustrações, medos e angústias que foram reprimidas: as dificuldades econômicas, as rixas familiares, a solidão, a crise do casamento, as zangas entre amigos, etc. As máscaras caem, e, a verdade, parece ter o seu momento de desforra. Talvez por isso é que se ouve muita gente dizer: «Não gosto do Natal». A aversão chega a ser de tal ordem que há quem chegue a afirmar: «Por mim, tomava dois Valiuns 10 e só acordava no dia 26!».

Diria que a tristeza (em vez da depressão) invade muitas pessoas durante este período, demonstrando que nem tudo está bem nas suas vidas. Se a felicidade é uma vocação universal do Homem, a sua busca é um processo individual, muitas vezes difícil e penoso. Verifica-se que há uma tendência para usar a doença mental para explicar esta tristeza e para justificar fracassos pessoais, reclamando da psiquiatria uma solução. Neste contexto, o indivíduo demite-se de participar nesse processo e procura obter a todo o custo a cura milagrosa para os seus males.

Apesar da correria habitual deste período, o Natal, paradoxalmente, acaba por nos obrigar a uma reflexão, confrontando-nos com as raízes dos nossos problemas e ao mesmo tempo com as raízes dos problemas dos outros. Daí que a tristeza apareça. E não há mal nenhum nisso, desde que ela sirva para ajudar a hierarquizar as nossas preocupações e catalizar uma mudança. Não podemos, portanto, cair na tentação de reduzir a dimensão humana à categoria de um objeto, repleto de consumo e de bem-estar com uns pozinhos de preocupação social.

Afinal, não basta tomar o tal comprimido ansiolítico para entorpecer a consciência; além de que, as aspirações mais profundas do homem não são materialistas. Por tudo isso, não vale a pena andarmo-nos a enganar a nós próprios. Até porque, se o algodão não engana, o Natal também não!

 

menino com presente de Natal

 

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Pedro Afonso - Psiquiatra

Fonte: APFN - Associação Portuguesa de Famílias Numerosas

 

Publicado no Portal da Família em 12/12/2007

 

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