Portal da Família
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ALEGRIA PARA UM NOVO ANO |
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André Gonçalves Fernandes |
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Às vezes, tenho a impressão de que festa com data marcada começa e não vira nada. Quem sabe vem daí a razão do provérbio popular, segundo o qual o melhor da festa é esperar por ela. De fato, a véspera deixa a imaginação fora de si. Depois, surge a dura realidade e que fica sempre aquém do estratosférico horizonte criado pela imaginação alada. Para o mundo imaterial dos sonhos, vale a máxima do mundo mais aqui embaixo da gulodice: os olhos são maiores que a barriga. Nesta época do ano, ouve-se daqui e dali: “É tempo de alegria! É tempo de felicidade!” Como se a alegria e a felicidade tivessem sido proscritas pelo Papai Noel para o resto do ano. A prevalecer tal idéia, o sentimento convencional assinalado no calendário tende a se esvaziar e transforma-se em uma convenção, somado ao fato de que, creio eu, o bom velhinho jamais permitiria isso. Eis um bom propósito para todo o próximo ano (e não apenas para o Natal): possuir a alegria diariamente. Mas onde encontrá-la? O primeiro passo é saber que a alegria tem uma natureza muito peculiar, pois é uma manifestação sensível de uma situação interior. Assim como a dor é o sinal de um estado patológico, a alegria é o indicador de um estado de plenitude de vida. “Onde há alegria, há realização”, dizia Bergson. O segundo passo está em evitar as situações que nos levam à tristeza. Por exemplo, a perda do rumo da vida, que afasta a alegria da existência humana. Dostoievski escreveu em “Os Irmãos Karamázov” “que o segredo da existência humana consiste não apenas em viver, mas também em encontrar um motivo para viver”. Onde apoiamos nossa alegria? Nos bens materiais, na existência nauseante de Sartre ou naquilo que nos obriga a sair de nós mesmos, como os outros ou o transcendente? O terceiro passo consiste em criar uma personalidade descontraída, transparente, positiva, simples, otimista e sorridente. Descanse, cante, ouça uma música estimulante, leia um bom livro, passeie, divirta-se com a família, saia com os amigos. Analisar o temperamento ou os fatos que causam depressão também ajuda, a fim de eliminar as falsas alegrias, aquelas cujas causas são inconsistentes. Uma atitude alegre deve preencher também os vazios provocados pelos contratempos diários. É possível, ainda que nos custe. Os revezes devem ser um elemento catalisador da personalidade: levados com bom ânimo, eles demarcam nossas limitações, possibilitam a compreensão dos sofrimentos alheios, proporcionam uma reação de agradecimento dos benefícios auferidos e, com o tempo, criam uma têmpera viril, disposta a enfrentar com serenidade o que para os outros seria fonte de tristeza. Não é à toa que, entre os homens bem-sucedidos, entre os que nada sofreram, normalmente estão as pessoas superficiais, egoístas e medíocres e, por conseqüência, irritadiças e mau-humoradas. O terceiro passo deve ser buscado também no trabalho, já que ele ocupa a maior parte do dia. Um ofício bem realizado profissionalmente acaba por aperfeiçoar nossa personalidade. A noção da magnitude dessa criação (a realização própria) enche de dividendos de júbilo todas as nossas ações. Bem ao contrário do trabalho feito na base da correria, da ansiedade, do telefone daqui e dali, da imposição insípida e do desleixo, os quais nada criam e geram prejuízos de tristeza. E, por fim, terceiro passo também se alcança pelo esquecimento próprio, o qual sempre paga com alegria. Não raro, a busca desmedida da felicidade provoca alguns efeitos colaterais: a preocupação excessiva por si mesmo, uma certa obsessão de perder o que se amealhou, o medo exagerado dos perigos da vida em sociedade, a angústia causada pelos problemas ainda não resolvidos ou pelos sacrifícios que o dia que nasce vai trazer, o pavor de ficar doente ou de sofrer. Tudo isso gera uma tensão cujo coeficiente cresce artificialmente em virtude do fator denominado “sempre pensando em si mesmo”. Viktor Frankl, famoso psiquiatra austríaco, certa vez, concluiu que “a felicidade não pode ser procurada, tem que vir ao nosso encontro e isso só acontece como um efeito colateral, não intencionado, da dedicação pessoal a uma causa mais elevada do que o próprio eu, ou como produto concomitante à entrega a uma pessoa”. Oxalá neste Natal (ou no próximo) possamos realmente ser pessoas alegres, de forma que a fantasia desta data não se resuma a uma foto colorida com música e animação adequadas. Como nos lembra Otto Lara Resende, “quanto mais gente ajustada existir no mundo, melhor. O mundo precisa de gente feliz e alegre. A alegria é comunicativa e faz bem”. |
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ANDRE GONÇALVES FERNANDES, Post-Ph.D. Juiz de Direito e Professor-Pesquisador. Graduado pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP). Mestre, Doutor e Pós-Doutorando em Filosofia e História da Educação pela UNICAMP. Juiz de direito, titular de entrância final em matéria cível e familiar, com ingresso na carreira aos 23 anos de idade. Pesquisador do grupo PAIDEIA-UNICAMP (linha: ética, política e educação). Professor-coordenador de metodologia jurídica do CEU Escola de Direito. Coordenador Acadêmico do Instituto de Formação e Educação (IFE). Juiz instrutor/formador da Escola Paulista da Magistratura (EPM). Colunista do Correio Popular de Campinas. Consultor da Comissão Especial de Ensino Jurídico da OAB. Coordenador Estadual (São Paulo - Interior) da Associação de Direito de Família e das Sucessões (ADFAS). Membro do Comitê Científico do CCFT Working Group, da União dos Juristas Católicos de São Paulo (UJUCASP), da Comissão de Bioética da Arquidiocese de Campinas e da Academia Iberoamericana de Derecho de la Familia y de las Personas. Detentor de prêmios em concursos de monografias jurídicas e de crônicas literárias. Conferencista e autor de livros publicados no Brasil e no Exterior e de artigos científicos em revistas especializadas. Membro Honorário da Academia de Letras da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Titular da cadeira nº30 da Academia Campinense de Letras. E-mail: agfernandes@tjsp.jus.br Publicado no Portal da Família em 12/12/2007 |
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