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Coluna "Escola da Aldeia"

Boas notas

Paulo Geraldo

Os pais têm um grande desejo de que os seus filhos tenham boas notas na escola.

As boas notas acontecem quando os alunos demonstram, nos momentos de avaliação, que aprenderam bem a matéria que os professores ensinaram. E aprendem bem de três maneiras principais: ouvindo com atenção as aulas, realizando com empenho as tarefas que lhes são indicadas, estudando.

Até certa altura, um aluno pode aprender bem sem que sinta necessidade de estudar: se tiver capacidade de concentração, facilidade para entender aquilo que escuta, boa memória. É difícil, nessa fase, que um filho faça muito mais do que os "trabalhos de casa", porque ele, muito compreensivelmente, não sente necessidade de se sentar diante de um livro a aprender uma coisa que já aprendeu anteriormente...  

A partir de certa altura, porém, estas capacidades já não são suficientes. É mesmo preciso estudar, porque os assuntos a aprender são já muitos ou muito complexos.   Esse momento não chega numa mesma fase de desenvolvimento, numa mesma idade, para todas as pessoas. Mas chega sempre para todos.

É conveniente estar com atenção, para notar a sua chegada. No entanto, não deve ser confundido com aquela quebra natural nos resultados escolares que muito freqüentemente sucede em certas etapas do crescimento, como a pré-adolescência ou a adolescência. Têm causas diferentes e devem ser encarados de formas diferentes.  

No que vou escrever a seguir, refiro-me a situações em que estão preenchidas condições básicas, como o aluno ter a capacidade real de aprender aquilo que lhe querem ensinar e possuir o equilíbrio interior resultante de uma família estável corretamente constituída. A falta disto introduz dificuldades que fogem ao âmbito deste texto.  

Chega, pois, um momento em que é preciso estudar. E estudar é uma atividade que não é agradável à maior parte das pessoas. É difícil, dá trabalho, custa esforço. Mesmo que alguns consigam tirar um prazer intelectual daquilo que aprendem, esse prazer chega como fruto de um esforço.  

Estudar é uma tarefa que depende de algumas coisas mais ou menos importantes e de duas coisas fundamentais. Ter um método de estudo ajuda, tal como ter um local apropriado, uma iluminação correto, um ambiente sossegado, o material necessário... Porém, o estudo depende essencialmente de duas coisas: a capacidade de sofrimento e, associada a ela, a motivação.   Como estudar é quase sempre desagradável e difícil, muitos jovens só serão bons alunos se estiverem habituados a fazer coisas desagradáveis e difíceis.

Portanto, a melhor forma de os pais ajudarem os seus filhos a serem bons alunos consiste em habituá-los desde muito cedo a fazerem tarefas desagradáveis e difíceis (repito propositadamente estes adjetivos...).  

Numa família normal há muitas coisas dessas para fazer todos os dias.   Exercitar-se numa tarefa deste gênero faz crescer, dá alegria, desenvolve capacidades, aumenta a força de vontade (e, portanto, a liberdade), fomenta a união com as outras pessoas. Estas coisas custosas, constituindo uma base para a capacidade de estudar, são, portanto, ainda mais importantes para a formação da personalidade, do caráter, das virtudes pessoais.

Nenhuma pessoa se constrói corretamente sem que faça muitas coisas que não lhe apetecem: sem o hábito de sofrer.   Poucos jovens habituados a facilidades e diversões constantes - jogos de computador, música, televisão, videogames, vídeos, festas... - serão bons alunos. Não serão bons, de resto, em outros aspectos bem mais importantes para a sua felicidade. Os pais que deixam os filhos habituarem-se e esse tipo de atividades estão a minar-lhes dramaticamente o caminho da vida e a felicidade.  

Conheci uns pais que souberam arrepiar caminho a tempo: quando o filho, lá pelos 13 anos, começou a ter umas notas nada agradáveis e uma atitude de preguiça perante o estudo, não insistiram demasiado em que estudasse, não lhe arranjaram orientadores... O que fizeram foi o que já antes deviam ter feito: dar-lhe uma boa carga de tarefas em casa: fazer a sua cama diariamente, aspirar a casa e outras coisas que já não recordo e lhe ocupavam muito tempo. Uns meses depois as notas tinham melhorado substancialmente...  

Um jovem lançar-se-á à difícil tarefa de estudar, se tiver, além de capacidade de sofrimento, motivação para isso. Motivação não significa que encontre gosto em estudar, mas que descubra motivos fortes para estudar: com gosto ou sem ele.   Mesmo não lhe apetecendo estudar, sentar-se-á diante dos livros com a consciência de que há coisas bem mais importantes do que o seu apetite. Saberá que há um preço a pagar por todo o belo objetivo, e estará disposto a pagá-lo com alegria.  

Mas o objetivo tem mesmo de ser grande e belo. Verdadeiro e profundo. Do tamanho da alma humana.   Durante algum tempo podes enganar o teu filho: dizer-lhe que vá estudar porque isso é necessário para vir a ter, no futuro, um bom trabalho, um bom salário e, conseqüentemente, uma vida boa que permita divertimento, prazer e facilidades, uma excelente casa, férias estupendas...  

Mas chegará o dia em que ele pergunte a si próprio para que há-de trocar, indo estudar, os divertimentos e os prazeres de agora pelos do futuro... que estão tão longe.   Não tens um motivo maior para lhe dar?  



site Aldeia

http://aaldeia.net/

 

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Paulo Geraldo Paulo Geraldo atuou como professor do Ensino Básico e Secundário em diversas escolas em Portugal. É poeta e escritor. Mantém o site CIDADELA de estudos da Língua Porguesa, e o site Educar Bem , que trata dos temas como Educação, Família, Adolescência, Caráter e Virtudes, Namoro, Sexualidade e Casamento. Atualmente mora em Coimbra, Portugal.

Publicado no Portal da Família em 26/05/2008

 

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