Portal da Família
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AGORA, COMO DIZER “EU TE AMO” ? |
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Floriano Serra |
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Já explico porque ando procurando uma nova expressão para substituir “eu te amo”. Sou de um tempo em que dizer “eu te amo” a uma pessoa, tinha o valor do tamanho de um bonde. “Eu te amo” não era apenas uma expressão verbal - era algo visceral: saía das entranhas, do fundo do coração, rompia com bloqueios, preconceitos, temores e inibições, e vinha para fora, em sussurros ou brados, mas sempre com enorme emoção e magnitude: EU TE AMO! E nesse momento mágico, estrelas, cometas e meteoros rodopiavam à nossa volta, ao som de sinos, sinfonias e cantos de pássaros. Talvez alguém sorria lendo isso, que, com toda razão, pode ser visto como piegas e careta. Mas, podem crer, dizer “eu te amo” era um negócio muito, mas muuuito sério. Não que hoje em dia não mais o seja, mas, nos tempos atuais, essa expressão assumiu uma conotação descompromissada, cotidiana, adquiriu um peso mais leve. Hoje, amigos e amigas se dizem “eu te amo”, com uma freqüência e uma facilidade desconcertantes para minha geração e que soa assim como quem diz “eu gosto muito de você”. Tem sido comum ver a troca dessa expressão nos MSNs da vida, nos Skipes e Orkuts, nos e-mails, nos bilhetes, nos cumprimentos informais. Ao telefone, tenho percebido que o “eu te amo” vem substituindo o “um beijo, tchau” entre os amigos, Não em interpretem mal, não há nada de errado com essas modernidades. Torço para que as pessoas continuem dizendo “eu te amo” umas às outras, mesmo que estejam querendo se referir “apenas” a uma grande amizade, um grande bem-querer, uma atração, afinidade, simpatia, ou mesmo expressar uma forma de gratidão e admiração. Tudo bem. A questão é: e os apaixonados de verdade, como é que ficam? Aqueles que nutrem pelo outro muito mais que uma grande amizade, muito mais que um grande bem querer ou uma enorme atração? Aqueles que são unidos por uma cumplicidade que parece não ser dessa encarnação – me perdoem os que não acreditam nisso. Como ficam esses? Com que recursos verbais contamos nós - os piegas, caretas e ultrapassados – quando quisermos dizer a expressão mágica para a alma gêmea finalmente (re)encontrada? “Eu te quero”, não serve – é muito possessivo. “Te desejo”, é muito sexual. “Te adoro”, é quase platônico. “Te venero” ou “te idolatro” cheira a devoção religiosa. “Te admiro muito”, é fraquinho, a gente fala isso para os heróis e artistas. “Te respeito”, é para as autoridades e os pais da gente. E então, o que sobra? Como dizer a alguém que, finalmente, depois de muitas léguas de vida, muitos anos-luz de procura, muitas vivências de falsos encontros e muitas decepções amorosas, você finalmente encontrou a pessoa com quem definitivamente quer compartilhar sua vida, seus sonhos, suas inseguranças, seu corpo e sua alma? Como dizer a uma pessoa que, por ser tão grande o sentimento que os une, uma vida é muito pouca para vivê-lo, ainda que envelheçam juntos? Quem já encontrou o amor bastante sabe a que me refiro. Estou falando de um sentimento tão gostoso, tão forte, tão misterioso que às vezes chega a doer de tão bom e intenso. Pois então, como vamos expressar tudo isso à pessoa amada se o “eu te amo” deixou de ter a força e o significado de antigamente? Sei que podem me achar um exagerado e que esteja dando ao assunto uma importância maior do que ele merece, mas a verdade é que acho essa questão tão relevante, tão vital, que até justificaria um plebiscito nacional – ou universal – para que todo mundo pudesse pensar a respeito e sugerir. Não seria maravilhoso toda gente pensando nessa coisa que um dia foi chamada de “amor” e enviando propostas, debatendo o assunto na televisão e nas emissoras de rádio, nos jornais e revistas? Sei não, acho que talvez até devesse entrar na pauta das discussões do Congresso Nacional, porque não se trata de uma questão de interesse apenas dos amantes, mas de toda a sociedade. Não me entendam mal. Vamos continuar nos dizendo “eu te amo” na maneira dos novos tempos. Fará bem a todos. Mas não esqueçamos dos amantes, dos apaixonados, dos cúmplices de coração e vamos ajudá-los a encontrar uma nova expressão para que eles possam, com a transcendência e força de antigamente, continuar compartilhando esse sentimento que é responsável pela alegria, pela saúde e pela vida de quem tem a oportunidade e a coragem de vivê-lo. |
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Floriano Serra é psicólogo clínico e organizacional, consultor, palestrante e presidente da SOMMA4 Consultoria em Gestão de Pessoas e do IPAT - Instituto Paulista de Análise Transacional. Foi diretor de Recursos Humanos em empresas nacionais e multinacionais, recebendo vários prêmios pela excelência em Gestão de Pessoas. Anteriormente, já atuou como psicoterapêuta de adultos e casais. É autor de uma dezena de livros e mais de 200 artigos sobre o comportamento humano - pessoal e profissional, publicados em websites, jornais e revistas, inclusive no Exterior. E-mail: florianoserra@somma4.com.br e florianoserra@terra.com.br Publicado no Portal da Família em 07/05/2009 |
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