Presente no dia das Crianças?

Com a aproximação do dia das crianças, presenciamos uma verdadeira corrida às compras de brinquedos. Pais sedentos em agradar seus pequenos reis e rainhas, não medem esforços. Porém, julgo pertinente, refletirmos um: O que realmente agrada nossas crianças?

Os tempos mudaram. Hoje as crianças têm acesso a muito mais informações que as crianças de 20 anos atrás. A sociedade evoluiu, os costumes e a família mudaram, os valores morais são expostos de uma forma diferente e também os heróis do universo infantil são outros. Além disto, o tempo que os pais dispõem para seus filhos ficou ainda mais reduzido.

É fácil perceber a explosão de produtos para o publico infantil. Hoje, nossas crianças recebem um bombardeio de imagens e mensagens de caráter apelativo e que enfatizam estilos de comportamento do universo adulto, como o uso de roupas com um “design” sensual, cópia de pessoas famosas, pinturas para as meninas e até mesmo, os desenhos infantis produzem uma relação para adquirir determinada marca, produto ou comportamento. Com a chegada do “dia das crianças” este apelo se torna mais forte e direto. O marketing dos produtos infantis também aposta na mudança na relação entre pais e filhos, antes marcada pela autoridade, e agora se modificou para a negociação ou a troca, o consumo para compensar a ausência ou para compensar aquilo que não tiveram. Alguns pais encorajam por prazer, o consumo de seus filhos, ou seja, os adultos procuram chegar ao seu prazer pelo consumo praticado por suas crianças.

Como doutora e pesquisadora, arrisco a dizer que toda criança seja rica ou pobre, tem atração pelas brincadeiras infantis (Digo brincadeiras construídas por elas e não apenas brinquedos comprados prontos). Sua relação com estas brincadeiras depende apenas de estimulo e oportunidades. Esta oportunidade de brincar precisa também ser estimulada pelos pais, afinal as brincadeiras de infância são culturais e acompanham gerações. Como mãe, posso afirmar que nossos filhos ainda se encantam em brincar juntos de “amarelinha”, bole-bole, rouba bandeira, peteca, casinha, cinco Marias, vareta, roda pião, andar de bicicleta na praça, entre outros. Porém, por outro lado, percebo, infelizmente, que aos poucos, estas brincadeiras estão deixando de fazer parte do universo infantil. As crianças por falta de estímulos ou por estímulos equivocados, estão desaprendendo a brincar e passando a ter brinquedos pelo prazer de possuir e mostrar.

Para mudar este quadro, precisamos saber que, tanto quanto colocar limites é muito importante, respeitar e direcionar os momentos de brincadeiras. Não podemos, nem devemos competir ou bloquear o processo de mudanças na relação com o brincar, mas sim proporcionar momentos em que o antigo e o novo possam interagir. As próprias crianças vão sinalizar os momentos em que desejam o carrinho de rolimã ou o videogame, a brincadeira de casinha ou o desfile de moda. Com bom senso, vamos aprendendo a dosar estes momentos e conviver com esta “infância mais curta e adolescência mais longa”.

Ainda não me sinto apta para dizer se isto é bom ou ruim, mas percebo claramente a alegria inocente das crianças quando começam a brincar. Então, que tal um dia das crianças diferente, onde além do brinquedo desejado, você tire um tempo para estar com ela, construir e ensinar, as brincadeiras que tanto encantaram gerações: carrinhos de lata, bonecas de pano, bichinhos de rolha... E depois é só diversão: hora de brincar juntos pais e filhos, avós e netos... Seja você o melhor presente para seu filho!