Balanço de Final de Ano

Ao se aproximar o término de mais um ano, talvez nos ocorra fazer uma análise da nossa vida. Antigos projetos ainda não realizados, êxitos que não trouxeram a tão almejada felicidade e, mais duros ainda, o peso dos nossos fracassos...

Quem nunca experimentou o amargo sabor do fracasso? Ele se apresenta sob muitas formas: uma ruína econômica; o naufrágio de um empreendimento com o qual sonhamos intensamente e dedicamos tempo e energia; um casamento que se desfaz; um ente querido que se vai. Diante disso, talvez nos perguntemos: valeu a pena?

Penso que o fracasso é sempre uma oportunidade imperdível de avaliarmos a profundidade das nossas convicções e, sobretudo, de examinarmos se temos colocado o nosso coração em algo que verdadeiramente valha a pena.

Há um filme muito bom, “Antes de Partir”, que pode nos ajudar a uma reflexão. Transcrevo um trecho da sinopse: “Carter Chambers (Morgan Freeman) é um homem casado, que há 46 anos trabalha como mecânico. Submetido a um tratamento experimental para combater o câncer, ele se sente mal no trabalho e com isso é internado em um hospital. Logo passa a ter como companheiro de quarto Edward Cole (Jack Nicholson), um rico empresário que é dono do próprio hospital. (...) Edward também está com câncer e, após ser operado, descobre que tem poucos meses de vida. O mesmo acontece com Carter, que decide escrever a ‘lista da bota’, (...) [que] consiste em desejos que Carter deseja realizar antes de morrer. Ao tomar conhecimento dela Edward propõe que eles a realizem, o que faz com que ambos viagem pelo mundo para aproveitar seus últimos meses de vida” (http://www.adorocinema.com/filmes/filme-114522/).

Após a viagem, ambos voltam à sua vida normal. Carter, para o convívio da família e Edward, para a sua casa, só, matando o tempo consumindo um tipo muito caro de café.

Se olharmos para o fim dos dois – já iminente – parece que o fracasso se aproxima inexoravelmente. Mas não. Ali fica estampado o peso das suas opções de vida. Carter encontra o calor da família à qual dedicou com muito sacrifício. E Edward, a solidão de quem empregou muito tempo em ganhar dinheiro.

Mas mesmo nesses momentos de despedia, Edward pode fazer algo de bom: cultivar uma amizade verdadeira, e nisso encontrar uma razão para a sua vida. O discurso no funeral do amigo – que transcrevo livremente – ilustra essa mudança: “A coisa mais simples de se dizer é que o amei e sinto a falta dele. Viajamos o mundo juntos. É extraordinário pensar que há três meses éramos dois estranhos. Espero que não soe muito egoísta, mas os últimos meses da sua vida foram os melhores da minha vida. Ele salvou a minha vida. (...) No final das contas, acho que é certo dizer que trouxemos alegria para vida um do outro. Então, quando eu for para o meu lugar de descanso e acordar no outro dia próximo a uma parede com uma porta, espero que o Carter esteja lá para me assegurar e me mostrar as cordas do outro lado. Até agora não entendo como medir a vida de alguém. Mas posso dizer isso: ‘Sei que quando morreu, seus olhos estavam fechados e seu coração aberto’”.

Penso que é isso, cara leitora, caro leitor: não há fracasso para quem ama e quer amar. Mas não esqueçamos que amor exige sacrifício, doação, fazer e dar-se sem esperar nada em troca. Uns descobrem cedo esse amor. Outros já quando poucos passos restam para o grande salto. Não importa, o que verdadeiramente importa é que esse grande e decisivo momento nos surpreenda... amando. Façamos, pois, um balanço das nossas vidas. Nesse intento, a única pergunta realmente importante é: onde temos colocado o nosso coração?

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Fábio Henrique Prado de Toledo é Juiz de Direito em Campinas e Especialista em Matrimônio e Educação Familiar pela Universitat Internacional de Catalunya – UIC.

e-mail: fabiohptoledo@gmail.com

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Publicado no Portal da Família em 15/12/2013