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Como conseguir uma autoridade positiva junto aos filhos

Pablo Pascual Sorribas

Ter autoridade, que é diferente de autoritarismo, é um pressuposto básico para a boa educação de nossos filhos.

Devemos demarcar limites e objetivos claros que lhes permita diferenciar o que está bem e o que está mal, porém um dos erros mais frequentes de pais e mães é o de exceder-se na tolerância; e tolerar o que devia ser intolerável.

E então começam os problemas. É preciso chegar a um equilíbrio - que não é a metade do caminho entre o bem e o mal. Como conseguir esse equilíbrio?

Em uma de minhas primeiras palestras para grupos de pais e mães, uma mãe levantou a mão e perguntou-me:

"-O que fazer se meu filho pequeno sobe na mesa e não quer descer?"

- Diga-lhe que desça, respondi eu.

"-Já faço isso, mas não me obedece e não desce", respondeu a mãe com voz de derrotada.

- Quantos anos tem teu filho, perguntei.

- Três anos, disse ela.

Situações semelhantes a essa se dão com frequência quando tenho ocasião de comunicar-me com um grupo de pais e mães. Geralmente costuma ser a mãe quem coloca a questão, apesar de estarem ambos presentes. O pai simplesmente concorda, seja com um silêncio cúmplice, seja afirmando com a cabeça, porque o problema é dos dois, evidentemente.

Que aconteceu para que em tão pouco tempo um casal de pessoas adultas, triunfantes no campo profissional e social, tenham desperdiçado o capital de autoridade que tinham quando o menino nasceu?

Atuações paternas e maternas, quase sempre cheias de boa vontade, minam a própria autoridade e fazem que os meninos primeiro e os adolescentes depois não tenham um desenvolvimento equilibrado e feliz com a consequente angústia dos pais.

O pai ou a mãe que primeiro reconhece não saber o que fazer ante condutas disruptivas do seu pequeno e que, depois, sente que perdeu seu filho adolescente, não pode desfrutar de uma boa qualidade de vida, por muito que andem bem as coisas econômica, social e profissionalmente, porque fracassou no "negócio" mais importante: a educação de seus filhos.

Quais são os erros mais frequentes que pais e mães cometem quando interagem com seus filhos?

Antes de continuar, quero advertir que, possivelmente, o senhor, como todos - eu também - em alguma ocasião cometeu cada um dos erros de que falarei em seguida.

Não se preocupe com isso. Não é um desastre. É o mais comum em qualquer pessoa que tenta educar TODOS OS DIAS seus filhos. Tem seu lado positivo. Quer dizer que tenta educar, o que já é muito! Na educação o que deixa marcas na criança não é o que se faz uma vez ou outra, mas o que se faz frequentemente, continuamente.

O importante é que, depois de uma reflexão, os pais considerem, em cada caso, as atuações que possam ser mais negativas para a educação de seus filhos, e tratem de remediá-las.

Estes são os principais erros que, com mais frequência, debilitam e diminuem a autoridade dos pais:

- A permissividade. É impossível educar sem intervir. A criança quando nasce não tem consciência do que é bom nem do que é mau. Não sabe se pode riscar as paredes ou não. Os adultos somos os que temos que dizer-lhe o que está bem e o que está mal. Deixar que se ponha de pé em cima do sofá porque é pequeno, por medo de frustrá-lo ou por comodidade é o começo de uma má educação. Um filho que faz "travessuras" e se pai não o corrige, pensa que é porque seu pai nem o estima nem o valoriza. As crianças necessitam limites e pontos de referência para crescerem seguras e felizes.

- Ceder depois de ter dito NÃO. Uma vez que você decidiu atuar, a primeira regra de ouro a respeitar é a do NÃO. O NÃO é inegociável. Nunca se pode negociar o não. Perdoe que eu insista, porém é o erro mais frequente e que mais dano faz às crianças. Quando você for dizer não ao seu filho, pense bem antes, porque não pode depois voltar atrás. Se você lhe disse que hoje não verá televisão porque ontem esteve mais tempo do que devia e não fez a lição de casa ou outros deveres, seu filho não pode ver televisão ainda que peça de joelhos e por favor, com cara suplicante, cheia de pena, mais uma chance. Há crianças tão treinadas nessa paródia que poderiam ensinar muito às estrelas do cinema e do teatro.

Em troca, o sim, este se pode negociar. Se você pensa que a criança pode ver televisão esta tarde, negocie com ele que programa e por quanto tempo. 

- O autoritarismo. É o outro extremo do mesmo bastão, oposto à permissividade. É tentar que a criança faça tudo o que o pai/mãe quer anulando sua personalidade. O autoritarismo só pretende a obediência pela obediência. Seu objetivo não é uma pessoa equilibrada e com capacidade de autodomínio, mas criar uma pessoa submissa, escrava sem iniciativa, que faça tudo o que o adulto lhe diga. É tão negativo para a educação como a permissividade.

- Falta de coerência. Já dissemos que as crianças precisam de pontos de referência e de limites estáveis. As reações do pai/mãe deverão ser sempre dentro de uma mesma linha diante dos mesmos fatos. Nosso estado de ânimo deverá influir o menos possível na importância que se dá aos fatos. Se hoje é mal riscar a parede, amanhã também. Igualmente é fundamental a coerência entre o pai e a mãe. Se o pai diz a um filho que deve comer com os talheres, a mãe deve apoiar, e vice-versa. Não cair na cilada do: "Deixa que coma como queira, o importante é que coma". 

- Gritar. Perder as estribeiras. Às vezes é difícil não perder a paciência. De fato todo educador sincero reconhece que perdeu o controle alguma vez em maior ou menor grau. Perder a paciência supõe um abuso de força que trás consigo uma humilhação e uma deterioração da autoestima para a criança. Além disso, todos nos acostumamos a tudo. A criança também aos gritos, fazendo cada vez menos caso deles: "cão que ladra, não morde". No fim, para que a criança fizesse caso, haveria que gritar tanto que nenhuma garganta humana conseguiria gritar assim.

Gritar trás consigo um grande perigo. Quando os gritos não dão resultado, a ira do adulto pode passar facilmente para o insulto, a humilhação e inclusive os maus tratos psíquicos e físicos, coisa que são muito graves. Nunca podemos chegar a esses extremos. Se os pais sentem que perderam os nervos, devem pedir ajuda: amigos, tutores, psicólogos, escolas de pais...

- Não cumprir promessas ou ameaças. A criança aprende muito cedo que quanto mais promete ou ameaça o pai ou a mãe, menos cumpre o que dizem. Cada promessa ou ameaça não cumprida é uma perda de autoridade que fica pelo caminho. As promessas e ameaças devem ser realistas, isto é, fáceis de aplicar. Um dia sem televisão ou sem sair, é possível. Um mês é impossível.

- Nunca negociar. Não negociar nunca significa rigidez e inflexibilidade. Pressupõe autoritarismo e abuso de poder, e isso impossibilita a comunicação. Um caminho ideal para que na adolescência se rompam as relações entre pais e filhos.

- Não escutar. Dodson afirma em seu livro 'El arte de ser padres' (A arte de ser pais), que uma boa mãe - hoje também podemos acrescentar pai - é a que escuta seu filho ainda que ela esteja falando pelo telefone. Muitos pais se queixam de que seus filhos não os escutam. E o problema é que muitos deles não escutaram nunca seus filhos. Os julgaram, avaliaram e lhes disseram o que deviam fazer, mas escutá-los...nunca!

- Exigir êxitos imediatos. Com frequência, os pais têm pouca paciência com seus filhos. Queriam que fossem melhores... Com seus filhos esquecem que ninguém nasceu sabendo. E tudo requer um período de aprendizagem com os correspondentes erros. Admitem isso nos demais e não podem suportá-lo em seus filhos. Tendem a só ver neles as coisas negativas e que, logicamente, "para que a criança aprenda" as repetem uma e outra vez.

No entanto, uma vez que sabemos o que havemos de evitar, alguns conselhos e truques simples podem aliviar esse problema, oferecendo um desenvolvimento equilibrado para os filhos e proporcionando paz às pessoas e ao lar. Este conselhos só requerem, por um lado, o convencimento - muito importante - de que são efetivos e, por outro, serem levados à prática de maneira constante e coerente.

Algumas destas técnicas já foram comentadas ao falar dos erros, e já não insistirei nelas. Limitar-me-ei a enunciá-las brevemente, como atuações concretas e positivas que ajudam a ter prestígio e autoridade positiva diante dos filhos:

Ter uns objetivos claros do que estamos pretendendo quando educamos. É a primeira condição sem a qual podemos dar muitas pauladas às cegas. Esses objetivos devem ser poucos, formulados e compartilhados pelo casal, de tal maneira que os dois se sintam comprometidos com o fim que perseguem. Requerem tempo de comentário, inclusive, às vezes, papel e caneta para defini-los e não esquecê-los. Além disso, devem ser revistos se suspeitamos que os esquecemos ou já ficaram defasados pela idade do filho ou mudança de circunstâncias familiares.

Ensinar com clareza coisas concretas. A uma criança de nada adianta dizer-lhe: "Seja bom" ou "comporte-se bem". Essas instruções gerais não lhe dizem nada. O que sim vale a pena é dar-lhe com carinho instruções concretas de como se pega o garfo e a faca, por exemplo.

Dar tempo para aprendizagem. Uma vez dadas as instruções concretas e claras, as primeiras vezes que as põem em prática, necessitam atenção e apoio mediante ajudas verbais e físicas, se for necessário. São coisas novas para ela e requerem um tempo e uma prática guiada.

Valorizar sempre suas tentativas e seus esforços por melhorar , ressaltando o que faz bem e passando por alto o que faz mal. Pensemos que o que lhe sai mal não é para nos aborrecer, mas porque está em processo de aprendizagem. A uma criança, como a um adulto, os fascina ter êxito e que seja reconhecido.

Dar exemplo para ter força moral e prestígio. Sem coerência entre as palavras e os fatos, jamais conseguiremos algo dos filhos. Antes ao contrário, os confundiremos e defraudaremos. Um pai não pode pedir a seu filho que faça a cama se ele não a faz nunca.

Confiar em nossos filhos. A confiança é uma das palavras chaves. A autoridade positiva supõe que a criança tenha confiança nos pais. É muito difícil que isto ocorra se o pai não dá exemplo de confiança no filho.

Agir e fugir dos discursos. Uma vez que a criança sabe ao certo qual deve ser sua atuação, é contraproducente investir tempo em discursos para convencê-la. Os sermões têm um valor de efetividade igual a zero. Uma vez que a criança já sabe o que deve fazer, e não o faz, atue coerentemente e aumentará sua autoridade.

Reconhecer os próprios erros. Ninguém é perfeito, os pais tão pouco. O reconhecimento de um erro por parte dos pais dá segurança e tranquilidade à criança e a anima a tomar decisões ainda que possa equivocar-se, porque os erros não são fracassos, mas equívocos que nos dizem o que devemos evitar. Os erros ensinam quando há espírito de superação na família.

Todas estas recomendações podem ser muito válidas para ter autoridade positiva ou totalmente ineficazes e até negativas. Dependerá de dois fatores, importantes em qualquer atuação humana e imprescindíveis nas relações com os filhos: amor e senso comum.

Educar é estimar, dizia Alexander Galí. O amor impede que as técnicas não se convertam em algo frio, nem rígido nas relações com os filhos. E, portanto, superficial e sem valor a longo prazo. O amor pressupõe tomar decisões que algumas vezes são dolorosas, a curto prazo, para os pais e para os filhos, porém depois serão vistas como valiosas a ponto de dar gosto e bem-estar interior nos filhos e nos pais.

O senso comum é que permite aplicar a técnica adequada no momento certo e na intensidade apropriada. Em função da criança, do adulto e da situação concreta. O sentido comum nos diz para não matar pernilongos com canhões, nem onças com tachinhas. Um adulto deve saber se tem diante de si uma onça ou um pernilongo. Se estiver em dúvidas deve procurar ajuda para sair das dúvidas antes de agir.

Pablo Pascual Sorribas

Professor, licenciado em História e logopedista

mãe e filho

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Fonte: http://www.solohijos.com/

Traduzido por Luiz Roberto de Barros Santos, São Paulo, 2014

 

Publicado no Portal da Família em 08/02/2015

 

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