Portal da Família
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Estupro e pudor |
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Fábio Henrique Prado de Toledo |
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O Brasil e o mundo ficaram chocados com o crime hediondo de violência sexual contra uma jovem no Rio de Janeiro. A notícia gerou forte reação, cobrando das autoridades a apuração e a punição desses bandidos. De fato, repugna e causa imensa indignação pensar que essa espécie de “homens-demônios”, capazes de cometer tal agressão, possam escapar impunes. Mas será que basta uma maior fiscalização e punição exemplar para que se restaure em sua plenitude o respeito à imensa dignidade da mulher? Durante décadas se lutou pela tão sonhada igualdade jurídica da mulher. Atualmente, porém, é apresentado a ela um modelo que talvez ainda mais a oprima e sufoque. Com efeito, propõe-se que deve ser magra, atlética, atraente e, para confirmar isso tudo, vestir-se de maneira provocativa. Ora, não será isso uma maneira de reduzi-la a um mero objeto de prazer? Não se trata de uma nova modalidade de machismo, mais sutil, e talvez por isso mais cruel? Penso que a raiz do problema é a perda do sentido e do valor do pudor. Essa palavra foi bombardeada nos últimos tempos até ser desqualificada como algo retrógrado e antiquado. Essa virtude, porém, é um fantástico mecanismo de defesa da intimidade. Quando se há de guardar um objeto delicado e de grande valor, são tomados muitos cuidados para que se conserve adequadamente. Com muito maior razão devemos guardar a nossa intimidade. Afinal, haveria algo mais valioso que o nosso interior? O pudor é um mecanismo de defesa que impede indevidas invasões na nossa intimidade. Assim, o modo de nos vestirmos, de conversarmos e de nos portarmos com os demais é, muitas vezes, o que permite ou impede que se adentre em aspectos íntimos do nosso corpo e da nossa vida. Sendo assim, é preciso educar no pudor. É o caso se se expor, por exemplo, que a maneira com que ela se veste poderá suscitar nos homens desejos que somente seriam saudáveis quando já se estivesse num relacionamento duradouro. Em suma, que só vale a pena expor partes do corpo perante pessoas que o merecem, com quem já se selou um compromisso de amor. Não estamos a sustentar que, no crime acima mencionado, a causa seria falta de pudor da vítima. Seria uma crueldade injusta tal afirmação. Aliás, o pudor não é uma virtude exclusivamente feminina. Também os garotos precisam ser nela formados. O protótipo de beleza masculina, marcado pelos músculos rijos, sem camisa e cueca visível sob a calça implica um exibicionismo da intimidade que, em última análise, afronta-lhe também a dignidade. Além disso, principalmente entre os rapazes, há um fator que merece ser considerado: a pornografia. Infelizmente, essa é um dos primeiros contatos que os homens têm com referência à sexualidade. É assustador notar a como nos intervalos das escolas do ensino fundamental se assistem vídeos e se veem fotos pornográficas em smartphones. Estima-se que isso movimenta 30% do volume de dados de toda a internet ( http://goo.gl/bwVKAV ). Diante desse cenário sombrio, é tempo de fomentarmos em nossos filhos e alunos um imenso respeito pela dignidade da mulher. Talvez nos ajude nesse intento considerar que a vida – dom mais valioso que possuímos – nos foi assegurada pelo amor da nossa mãe que, prolongando o ato de amor com que nos concebeu e nos gerou, soube se traduzir em gestos concretos de carinho, desvelo e dedicação. E um grande desafio do educador saber ensinar que o ato sexual genuinamente humano é a expressão de um amor sublime e magnificamente belo. É inegavelmente fonte de um grande prazer, mas não se reduz a isso. É muito mais. Trata-se de uma doação que cada qual faz ao outro da própria intimidade. Sendo assim, deveríamos propor uma indagação racional prévia a esse ato fortemente marcado pela emoção: “essa pessoa merece que lhe compartilhe algo tão íntimo e valioso?”.
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Fábio Henrique Prado de Toledo é Juiz de Direito em Campinas e Especialista em Matrimônio e Educação Familiar pela Universitat Internacional de Catalunya – UIC. e-mail: fabiohptoledo@gmail.com Blog: http://fabiohptoledo.blogspot.com.br/ Publicado no Portal da Família em 27/05/2016 Outros artigos do autor:
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