Portal da Família
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Filhos solitários: como ajudá-los |
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Teresa Artola González |
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Algumas crianças têm dificuldades na hora de fazer amizades ou de enfrentar situações sociais. Saiba como ajudar um filho nessa situação. Antes de tudo, vou relatar um caso para exemplificar essa situação. Situação familiar: Carlos o solitário Carlos tem 11 anos e é filho único. Sempre foi um menino muito solitário. O que mais gosta de fazer é ficar em casa lendo ou jogando com o computador. Até a pouco tempo, seus pais não davam muita importância à essa situação. Pensavam que, por não ter irmãos, era mesmo mais difícil para ele relacionar-se com os demais. No colégio Carlos é uma criança que não dá problemas. Geralmente passa inadvertido. Suas notas são normais e é dócil e obediente. Os professores dizem que ele fica à vontade. Não costuma participar nos jogos de equipe e no recreio costuma andar sozinho procurando lagartixas e bichos. Tampouco é recusado por seus companheiros. Simplesmente passa desapercebido. Agora, vai completar 12 anos, seus pais começaram a preocupar-se. Consideram que ele está chegando a uma idade na qual os amigos são importantes e que não é normal, na sua idade, que um menino não tenha interesse por sair de casa nem se relacionar. Frequentemente se exasperam ao ver Carlos desperdiçar seu tempo livre. Ele passa horas em seu quarto ouvindo música, jogando com o computador, lendo ou simplesmente perambulando pela casa. Xavier, seu pai, se aborrece e lhe diz para sair pela cidade para procurar amigos, que fique no colégio com seus companheiros para jogar futebol ..., mas parece que não funciona. Se ele sai de casa, em meia hora já está de volta. Seus pais ficam preocupados por ele depender tanto deles. Acham que já é hora de ele começar a soltar-se deles, mas força-lo a isso não parece adiantar. A criança isolada Algumas crianças têm dificuldades à hora de fazer amizades ou enfrentar situações sociais. Os pais devem estar atentos se seu filho:
A criança isolada mostra, pois, uma tendência a manter-se sozinha. Foge do contato social com outras pessoas ou as evita enquanto pode. No colégio, as crianças isoladas costumam negar-se a participar nas atividades de grupo e preferem trabalhar e jogar a sós. O problema se agrava porque, geralmente, os professores costumam prestar mais atenção nas crianças barulhentas e rebeldes, que são as que alteram o funcionamento da classe, e quase nunca se preocupam com as crianças solitárias, que são consideradas como boas e costumam passar desapercebidas. Dica: a sociabilidade é uma virtude que deve ser cultivada Por que o filho(a) se isola? São vários os fatores que podem influenciar uma criança a ter tendência a ser solitária e se isolar: É necessário dizer que os pais costumam ser, em grande medida, responsáveis por essa situação. Por exemplo, quando os próprios pais mostram, em si mesmos, um comportamento isolado e se mostram inseguros e tímidos, eles podem estar atuando como modelo para o comportamento de seu filho. Os pais que também superprotegem seu filho, que lhe advertem continuamente de todos os perigos, que não lhe permitem que o filho participe de muitas experiências novas, por medo de que o filho não seja capaz de manejá-las, dificultam a capacidade do filho de desenvolver-se em situações sociais. Neste sentido, há crianças que acabam isolando-se por comodidade. Quando em casa lhe dão de tudo e todo tipo de facilidade, algumas crianças se acomodam e se afeiçoam cada vez mais às vantagens do lar (geladeira cheia de coisas boas, televisão própria, etc.) e não se preocupa em ampliar seus horizontes. A falta de segurança em si mesmo é outro dos fatores que dificulta o desenvolvimento social da criança. Assim, a criança que se sente recusada, ou pouco querida por seus pais, terá maior dificuldade para confiar em outras pessoas, e ao não se sentir aceita em sua família considerará igualmente difícil o ser aceito pelos demais. Dica: Se aumentarmos a segurança e autoestima da criança, será mais fácil para ela relacionar-se. A existência de algum complexo (real ou imaginário) também pode ser a causa de que uma criança se isole por medo de gozações das outras crianças. O usar óculos, um corte de cabelo que não goste ... até defeitos físicos mais graves, podem levar a criança a isolar-se. Os pais devemos estar atentos e procurar não lhes provocar nem lhes aumentar esse complexo com nossa atitude. Outra causa que pode estar na origem do isolamento é a timidez. Um filho único com poucas oportunidades de relacionar-se com outras crianças e acostumado a estar sempre com os adultos pode ter maiores dificuldades para integrar-se socialmente. Do mesmo modo, uma criança que ingressa tarde no colégio, sem ter passado pela pré-escola, terá mais dificuldades para integrar-se e fazer amigos. Mas, então, como posso ajudar meu filho? Como sempre, o melhor é prevenir, desenvolvendo na criança pequena a sociabilidade. Durante os três primeiros anos de vida, para ser sociável o fundamental para um filho é que possa confiar nas pessoas que o rodeiam. Se a criança cresce em um ambiente seguro e confiável desenvolverá uma atitude positiva e confiável frente aos outros. Por outro lado, alguns jogos são especialmente indicados para desenvolver a sociabilidade. Por exemplo, através das bonecas, as meninas aprendem simbolicamente a relacionar-se com os demais: conversa com elas, lhes dão de comer, organizam festas. Isso lhes serve de treinamento para a vida social. Outros jogos de tipo simbólico como as cozinhas, os supermercados, servem para afiançar esta capacidade. A partir dos 8 anos surgem os “amigos íntimos” ou “especiais”. Um amigo íntimo proporciona segurança a nosso filho e pode supor um complemento muito benéfico para o desenvolvimento de sua personalidade. Um bom amigo faz crescer a autoestima da criança e pode ajudá-lo a perder a timidez ante outros grupos ou diante dos companheiros de classe. Portanto, os pais devem preocupar-se em conversar periodicamente com os professores dos filhos, e não apenas de temas acadêmicos. Devem perguntar se o filho tem amigos, qual é seu melhor amigo ... perguntando a seus professores, conversando com ele, convidando seus amigos para vir em casa, deveremos ir conhecendo como ele desenvolve suas amizades. Dica: Se seu filho é solitário pesquise a causa desta atitude Que não tenha amigos ou prefira jogar sozinho pode ser sintoma da existência de outros problemas, como a existência de complexos. Se se trata de preguiça ou comodidade, os pais devem tentar romper nos filhos os hábitos preguiçosos. Não lhe permitam comodidades que reforcem seu desejo de não sair de casa. Não deixe que ele se levante à hora que quiser e nem que fique de pijama toda a manhã no fim de semana. Abandone as posturas muito protecionistas e exija-lhe algum esforço no lar: fazer a cama, tirar o lixo ... Dica: Os filhos necessitam de nossa exigência para se sentirem mais seguros Pesquise quais interesses tem seu filho e motive-o para que as compartilhe com outras crianças de sua idade. Se ele gosta de desenhar matricule-o em alguns cursos onde possa conhecer outras pessoas com os mesmos interesses. Facilite sua integração em clubes, associações esportivas ou culturais, ou mesmo em atividades extraescolares do colégio ... que lhe permitam sair de si mesmo e relacionar-se com os demais. Dê-lhe a possibilidade de que, já que gosta de estar em casa, possa trazer seus amigos, para estudar juntos ou jogar videogame, mas não force as relações. Vá os poucos. Cuidado com algumas atividades que favoreçam ao isolamento Uma delas é a TELEADICÇÃO, ou seja, o vício na televisão. Muitas crianças hoje em dia dedicam um tempo excessivo para ver televisão. Na Espanha calcula-se que em média as crianças veem televisão de três a quatro horas por dia. Calcula-se que esse tempo pode triplicar durante os fins de semana e férias. Além disso, cada vez mais aumentam na TV o número de seriados e programas direcionados para crianças. É comum ouvirmos falar de casas onde virou hábito a criança ligar a televisão assim que se levanta da cama, antes de ir ao colégio. Ocorre também que, muitas vezes, os pais transformam a televisão numa espécie de “babá”, para que as crianças os deixem dormir ou fiquem tranquilas. Enfim, a televisão se converteu, quase sem dar-nos conta, na primeira atividade de ócio das crianças em idade escolar. Atualmente, é preocupante que em muitos lares existem várias televisões, inclusive cada vez é mais frequente que a criança disponha da sua própria televisão em seu quarto. Calcula-se que um aluno da pré-escola gaste, em um ano, cerca de 1.200 horas vendo televisão. Continuando com esse hábito, essa pessoa, quando chegasse aos setenta anos, teria passado uns oito anos de sua vida diante do televisor. Como se pode ver, esses números são impressionantes. Muitos outros problemas, que agora não vêm ao caso, podem advir dessa situação, como a falta de concentração, passividade, falta de imaginação, aprendizagem de condutas agressivas, perturbações do sono ... o excesso de televisão implica um risco adicional. Como consequência, a criança se isola em casa e se isola no quarto onde tem sua televisão, deixa de sair para jogar e divertir-se com os amigos, torna-se introvertida, fechando-se em um mundo mágico, mas falso, isolado do mundo exterior. Recentemente surgiu um rival: O COMPUTADOR e a INTERNET. Muitos pais, preocupados em que seus filhos ingressem o quanto antes no mundo da informática, lhe compram um computador pessoal. Também é comum que desde criança já tenham um telefone celular com acesso à Internet. O problema apoia-se em que esses logo podem deixar de ser um instrumento de trabalho e entretenimento esporádico, e converter-se no melhor amigo de seu filho (o “amigo eletrônico” como lhe chamam alguns pesquisadores norte-americanos). A criança passa horas e horas fechada em seu quarto jogando com o computador, isolando-se do mundo exterior, navegando por imaginárias autopistas da internet. Algo parecido ocorre com os videogames, com o risco adicional de que a criança possa levá-los a todos os lados, de tal forma que é frequente ver crianças no ônibus ou no parque, totalmente desconectadas de seu entorno, enfrascadas em seu aparelho de videogame. Se além disso leva um tocador de música MP3 (o próprio celular que toca música), o isolamento é total. Atualmente, os programas de troca de mensagens instantâneas pelo celular/Internet (WhatsApp, SMS, Messenger etc.) são os grandes responsáveis pelo isolamento das pessoas (adultos também, não só as crianças) em relação ao que ocorre à sua volta. O uso sem controle destes aparelhos que representam cerca de 40% dos presentes comprados pelos pais no Natal, pode influenciar negativamente no desenvolvimento da sociabilidade na criança conduzindo-lhe ao individualismo, a solidão, a perda de amizades e a um desinteresse crescente pelo que está à sua volta . Portanto é importante que os pais conheçamos estes perigos. Limitem as horas de televisão, computador, videogame ou outros jogos solitários, estabelecendo com ele um máximo de tempo diário. Faça-lhe ver que os jogos são mais educativos quanto mais pessoas participam. Anime-lhe a compartilhar seus jogos. Ofereça-lhe, também, outras alternativas para preencher seu tempo livre. O esporte, o contato com a natureza, a participação em organizações juvenis, o jogar com os pais, o fomento de seus interesses pode ajudar-lhe a desenvolver melhor sua sociabilidade. E se ele briga com os amigos? As brigas com os amigos costumam corresponder a uma frase normal do desenvolvimento da sociabilização da criança: não é um sinal de uma forma imatura de relacionar-se com os demais. Pouco a pouco deverão ir encontrando meios mais adequados para solucionar seus conflitos. Nestas situações, o melhor é não intervir e deixar que seu filho resolva seus próprios problemas. Pouco a pouco deverá ir fazendo-lhe ver que existem outras formas de defender seus pontos de vista sem necessidade de recorrer a chutes ou socos. O problema surge se seu filho mostra-se sempre conflitivo e violento e recorre sempre à força para solucionar seus problemas. Se o seu filho se comporta desta forma tenha em conta que a maior parte das condutas agressivas são formas que a criança tem de reagir diante de sentimentos de inferioridade, carência afetiva, frustração e baixa autoestima. Para prevenir, deve-se educar o filho desde pequeno no cuidado e respeito com as pessoas e com as coisas. Motive-o para que seja generoso e saiba compartilhar com os demais. Ensine-o a ser sensível às necessidades e aos sentimentos dos demais Se ele se comporta de forma agressiva, tente fazer com que essa conduta não lhe resulte rentável, ou seja, que não obtenha benefícios por mostrar-se agressivo. Também tenha especial cuidado em controlar os programas de TV que assiste e os companheiros com os quais se junta. Os pais também devem observar e refletir sobre o seu próprio comportamento: xingam o filho com frequência? O ameaçam? Brigam frequentemente com ele? Se o fazem, estão servindo de modelo. Facilite para que o filho se relacione com outras crianças que são capazes de se divertirem de forma pacífica. Procure integrá-lo a grupos de jovens ou associações esportivas que requeiram um trabalho em equipe, onde é necessário aprender a ceder. Dica: Quando o filho se mostrar generoso em alguma situação, esteja atento para elogiá-lo e reforçar suas condutas sociais positivas. E, sobretudo, tente aumentar-lhe a segurança em si mesmo, sua autoestima, e ensiná-lo a autocontrolar-se. Para isso pode ser adequado que aprenda algum esporte que o faça ter segurança em si mesmo. UM PLANO DE AÇÃO PARA O CASO DE CARLOS OBJETIVO GERAL: Desenvolver sua sociabilidade. OBJETIVO ESPECÍFICO: Compartilhar seu tempo livre com outras pessoas. MEIOS: Para Carlos, que gosta da natureza e sempre está colhendo bichos e lendo sobre eles, os seus pais, aproveitando esse interesse, o matricularam em um grupo de montanhismo que todos os fins de semana faz excursões ao campo. MOTIVAÇÃO: Neste grupo o ensinarão a orientar-se no bosque, farão acampamentos, lhe ensinarão a distinguir os cantos dos pássaros, técnicas de sobrevivência, etc. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS: A princípio foi muito difícil porque ele não conhecia ninguém. No primeiro dia teve de ir ao grupo forçado. Por sorte, desde o princípio ele se sentiu muito acolhido. Agora espera, com ansiedade, a chegada do sábado e também está muito animado pensando no acampamento que farão durante uma semana no mês de julho. |
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TERESA ARTOLA GONZÁLEZ é doutora em Psicologia pela Universidade Complutense de Madri e Mestre em Educação Familiar pelo E.I.E.S (Educational Institute of Educational Sciences). Desenvolve um amplo trabalho de pesquisa docente no campo da Psicologia Infantil e é professora da Escola Universitária Europeia da Educação e Fomento de Centros de Ensino. É autora de diversas publicações em sua maior parte dedicadas aos problemas de aprendizagem, sua avaliação e tratamento. Fonte: Livro “Como resolver situações cotidianas de seus filhos de 6 a 12 anos” Publicado no Portal da Família em 13/04/2016 |
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