Greve no metrô de Londres

Foi noticiado na semana passada o caos gerado pela greve no metrô de Londres. Os funcionários decidiram paralisar as atividades em protesto contra a decisão do governo de instalar máquinas para a venda de bilhetes, o que ensejará a demissão de centenas de trabalhadores.

Confesso que a mensagem me fez recordar a última viagem que fizemos ao velho continente. De fato, é impressionante notar a excessiva automação em todos os setores. Começa pelos postos de combustível, quase todos “self-service”. Como bom brasileiro, do que muito me orgulho, apanhei bastante tentando introduzir a bomba de combustível na boca do tanque. E, sob as gargalhadas dos meus filhos, que me observavam todo desajeitado, voltei para o carro com as mãos sujas de gasolina. Toda a operação se deu sem nenhum contato humano. Introduzi o cartão de crédito numa máquina, que me liberou o acesso à bomba, abasteci o veículo e fui embora sem conversar com ninguém. “Que saudade daquela conversa amistosa com os nossos frentistas, quase sempre brincalhões”, pensei comigo enquanto partia.

E o mesmo ocorre lá em muitos setores. Nas lojas de conveniência abundam as máquinas de café, refrigerante, salgadinho etc., na qual se introduz dinheiro e se retira o produto, novamente sem nenhum contato com pessoas. E mesmo se dá nos transportes públicos. Em grande parte deles se inserem moedas numa máquina que vomita os bilhetes, sob o olhar apressado e absolutamente indiferente dos demais que aguardam na fila para a compra.

Quando retornei ao nosso queridíssimo Brasil, em uma passagem pelo terminal rodoviário de Campinas, notei que também se emite um bilhete para acesso ao local de embarque, que há de ser inserido numa máquina. Porém, para espanto, há um funcionário ali para auxiliar aqueles que encontram dificuldades. E, se não houver dificuldade, podemos ao menos olhar para alguém de carne e osso e dizer e ouvir: “bom dia!”, “boa viagem!”.

Será saudosismo da minha parte? Talvez sim. Mas penso que bem poderíamos, a partir dessa constatação, meditar nos rumos que estamos tomando quanto ao trabalho e às relações humanas.

Já se disse que, no futuro, todos os trabalhos humanos que puderem ser substituídos pela máquina o serão. E essa afirmação é feita – sinceramente ou não – num contexto de se promover a dignidade humana, de modo que seriam substituídas apenas as atividades “indignas”. Mas o que são trabalhos indignos?

Há, de fato, muitas tarefas repetitivas, desgastantes e ruinosas para a saúde que bem se faz mesmo em substituir pela máquina. No entanto, será que tal avanço se dará simplesmente no sentido de se promover o trabalhador, mecanizando as atividades insalubres? Ou tal avanço se dará sempre e exclusivamente movido pelo lucro, substituindo empregos pela máquina quando isso for lucrativo e mantendo o trabalho humano quando esse for mais barato, ainda que com danos à saúde e à vida familiar do trabalhador? E mais, quando se reduz os custos de produção isso se dá por que motivo? Por questão de sobrevivência da empresa num mercado cada vez mais competitivo, talvez se dirá. Mas... esse deus a quem chamam mercado estará preocupado com os seus “agentes”, que são seres humanos dotados de uma dignidade incomensurável?

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Fábio Henrique Prado de Toledo é Juiz de Direito em Campinas e Especialista em Matrimônio e Educação Familiar pela Universitat Internacional de Catalunya – UIC.

e-mail: fabiohptoledo@gmail.com

Blog: http://fabiohptoledo.blogspot.com.br/

Publicado no Portal da Família em 04/05/2014