São 7h. O despertador canta de galo e eu não tenho forças
nem para atirá-lo contra a parede.
Estou TÃO acabada, não queria ter que trabalhar hoje. Quero
ficar em casa, cozinhando, ouvindo música, cantarolando até.
Se tivesse filhos, gastaria a manhã brincando com eles, se tivesse
cachorro, passeando pelas redondezas.
Aquário? Olhando os peixinhos nadarem. Espaço? Fazendo alongamento.
Leite condensado? Brigadeiro. Tudo menos sair da cama, engatar uma primeira
e colocar o cérebro para funcionar.
Gostaria de saber quem foi a mentecapta, a matriz das feministas que teve
a infeliz idéia de reivindicar direitos à mulher, e por
quê ela fez isso conosco, que nascemos depois dela. Estava tudo
tão bom no tempo das nossas avós, elas passavam o dia a
bordar, a trocar receitas com as amigas, ensinando-se mutuamente segredos
de molhos e temperos, de remédios caseiros, lendo bons livros das
bibliotecas dos maridos, decorando a casa, podando árvores, plantando
flores, colhendo legumes das hortas, educando crianças, freqüentando
saraus... A vida era um grande curso de artesanato, medicina alternativa
e culinária. Aí vem uma fulaninha qualquer que não
gostava de sutiã, tampouco de espartilho, e contamina várias
outras rebeldes inconseqüentes com idéias mirabolantes sobre
"vamos conquistar o nosso espaço". Que espaço,
minha filha? Você já tinha a casa inteira, o bairro todo,
o mundo ao seus pés. Detinha o domínio completo sobre os
homens, eles dependiam de você para comer, vestir, e se exibir para
os amigos..., que raio de direitos requerer?
Agora eles estão aí, todos confusos, não sabem mais
que papéis desempenhar na sociedade, fugindo de nós como
o diabo da cruz. Essa brincadeira de vocês acabou é nos enchendo
de deveres, isso sim. E nos lançando no calabouço da solteirice
aguda.
Antigamente, os casamentos duravam para sempre, tripla jornada era coisa
do Bernard do vôlei - e olhe lá, porque naquela época
não existia Bernard e, se duvidar, nem vôlei.
Por quê, me digam, por quê um sexo que tinha tudo do bom e
do melhor, que só precisava ser frágil, foi se meter a competir
com o "macharedo"? Olha o tamanho do bíceps deles, e
olha o tamanho do nosso. Tava na cara que isso não ia dar certo.
Não agüento mais ser obrigada ao ritual diário de fazer
escova, maquiar, passar hidratantes, escolher que roupa vestir, que sapatos,
acessórios, que perfume combina com o meu humor, nem de ter que
sair correndo, ficar engarrafada, correr risco de ser assaltada, de morrer
atropelada, passar o dia ereta na frente do computador, com o telefone
no ouvido, resolvendo problemas. Somos fiscalizadas e cobradas por nós
mesmas a estar sempre em forma, sem estrias, depiladas, sorridentes, cheirosas,
unhas feitas, sem falar no currículo impecável, recheado
de mestrados, doutorados, e especializações. Viramos supermulheres,
continuamos a ganhar menos do que eles.
Não era muito melhor ter ficado fazendo tricô na cadeira
de balanço? Chega!, eu quero alguém que pague as minhas
contas, abra a porta para eu passar, puxe a cadeira para eu sentar, me
mande flores com cartões cheios de poesia, faça serenatas
na minha janela - ai, meu Deus, 7h 30min, tenho que levantar!, - e tem
mais, que chegue do trabalho, sente no sofá, coloque os pés
para cima e diga: "meu bem, me traz uma dose de whisky, por favor?",
descobri que nasci para servir. Vocês pensam que eu estou ironizando?
Estou falando sério! Estou abdicando do meu posto de mulher moderna...
Troco pelo de Amélia. Alguém se habilita?
Autor anônimo
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