A arte do ballet torna visível o invisível. Essa percepção é ainda mais verdadeira quando se assiste a uma apresentação de ballet com Cecília Kerche, Embaixatriz da Dança, título outorgado pela UNESCO, cuja história de sucesso faz parte também da história do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Em comemoração ao centenário do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Cecília Kerche concedeu essa pequena entrevista à Wellen Barros:

1- Cecília, em sua opinião o sonho de um artista erudito é trabalhar no Theatro Municipal?

CK- Acredito que seja o objetivo, pois se trata do único teatro no país que abriga três corpos artísticos (ballet, coro e orquestra).
A formação de um artista erudito é muito longa e cheia de dedicação e só tem continuidade tornando-se uma carreira, quando este artista faz parte de um corpo artístico numa casa de tradição em artes líricas.

2- Qual o significado do Theatro Municipal em sua vida?

CK- Era meu objetivo pertencer ao teatro mais importante de meu país e nele me tornar bailarina principal de seu corpo de baile, foi no Theatro Municipal que aprendi o que é ser profissional e responsabilidade que teria ao deixar como parte da tradição do ballet clássico a minha contribuição.

3- Fale sobre um momento seu, de grande emoção, vivenciado no Theatro Municipal.

CK_- Foram muitos sem dúvida, mas vou ressaltar este:
Em 2007 ao final de uma récita de O Lago dos Cisnes, quando o então diretor do ballet Marcelo Misailidis ofereceu uma homenagem em cena aberta à Berta Rosanova e eu como as mais importantes intérpretes de Odette/Odile da história do Theatro Municipal. Homenagem à qual agradeço ao Marcelo do fundo do coração.

4- Que presente você gostaria de oferecer ao Theatro Municipal no seu Centenário?

CK- Como monumento de arte nosso querido Theatro Municipal já está recebendo um presente que é a sua reforma, mesmo que tardia. Agora como instituição, aí eu teria que ter o dom de uma fada madrinha e aproveitar a semelhança estrutural do nosso prédio com o da Ópera de Paris e fazê-lo funcionar tal qual se funciona na França. Aí sim, seria um presentão para o Theatro Municipal.

5- Cecília, você construiu uma carreira no exterior e, por conta disso, recebeu vários convites para permanecer fora do Brasil, mas sua escolha foi para a Companhia de Ballet do Theatro Municipal. Isso pode ser encarado por amar uma tradição? Fale um pouco sobre essa escolha de vida.

CK- Optei por ficar aqui porque foi um momento em que o Theatro Municipal me ofereceu a possibilidade de crescer como artista. Pude dançar em grandes produções da casa, com um repertório muito atrativo e uma quantidade de espetáculos embora distante da realidade de outras companhias no exterior, porém muito mais expressiva que agora, o que possibilitou conciliar minha agenda aqui e nas companhias internacionais onde atuei.