O site para pais, mães, filhos, cônjuges, vovô e vovó, tios, sogras, amigos e todos que promovem a Família e a Vida
Política de PrivacidadeO número de jovens menores de idade diagnosticados com disforia de gênero que receberam tratamento para inibir a puberdade aumentou muito na última década. Mas esse rápido aumento contrasta com a incerteza do diagnóstico nessas idades, adverte artigo publicado na revista britânica The Economist (jan-2020).
A disforia de gênero é uma condição psicológica na qual as percepções psicológicas e culturais de uma pessoa sobre seu sexo se diferenciam bastante do seu sexo biológico.
Até poucos anos atrás, na Grã-Bretanha, os casos de crianças em tratamento de disforia de gênero pelo Serviço Nacional de Saúde (NHS) eram raros, mas na década passada eles aumentaram a uma taxa de 50% ano a ano. Nos Estados Unidos, o número de clínicas de gênero que tratam crianças aumentou de apenas uma em 2007 para cerca de 50 atualmente.
Segundo dados do NHS, 2.590 menores de idade receberam tratamento durante 2019 em hospitais especializados neste tipo de distúrbios no Reino Unido. Muitos desses menores receberam drogas que atuam como bloqueadores hormonais, uma prática que, apesar do risco envolvido, é comum no tratamento da disforia e precedem outras prescrições que objetivam a transição para outro sexo, como a aplicação de hormônios próprios do outro sexo (“cross-sex hormones”), como testosterona ou estrógenos, além de cirurgia para mudança de sexo.
Os bloqueadores hormonais, também chamados de bloqueadores da puberdade, são geralmente administrados em crianças entre 9 e 14 anos de idade e impedem que os adolescentes desenvolvam características sexuais secundárias, como seios ou barba. O principal objetivo seria poupar a experiência de, por exemplo, uma garota se tornar parecida com uma mulher se ela deseja ser um menino.
Porém, a prescrição desses medicamentos inibidores pode ser contraproducente, como explica o Dr. Paul W. Hruz, Ph.D., professor associado de Pediatria, Endocrinologia, Biologia Celular e Fisiologia da Universidade de Washington, porque a ativação dos processos hormonais é interrompida, o que, precisamente no período da puberdade, é decisivo para a configuração natural da identidade sexual.
De fato, diversos estudos com crianças disfóricas de gênero que não tomaram bloqueadores da puberdade descobriram que a maioria delas (mais de 85%), se apoiada por aconselhamento psicológico, fica feliz com o seu próprio sexo quando sai da puberdade.
No momento, não há como distinguir esses 15% que ficam satisfeitos com a mudança das 85% das crianças que poderiam ter ficado felizes com o sexo de seu nascimento se tivessem recebido um devido aconselhamento.
Além disso, observa-se que nem os filhos nem os pais recebem todas as informações que deveriam sobre as consequências potencialmente graves do tratamento com inibidores da puberdade.
Segundo a Dra. Michelle Cretella, presidente do conceituado Colégio Americano de Pediatria (American College of Pediatricians), não há estudo de longo-prazo sobre os impactos das drogas bloqueadoras e das aplicações de hormônios no organismo humano, particularmente em crianças. O que já se sabe de concreto, entretanto, é que aumentam o risco de desenvolvimento de câncer e a propensão a problemas cardiovasculares. Há também estudos que apontam que esses medicamentos podem afetar a densidade óssea a longo prazo.
Apesar de muitas de suas sequelas serem reversíveis, algumas que resultam da combinação com os hormônios administrados podem não ser. Por exemplo, algumas pesquisas apontam como sequela um aumento dos casos de infertilidade. Outros estudos apontam taxas mais altas de suicídio em crianças com disforia de gênero que receberam bloqueadores da puberdade comparado com as que não usaram esses medicamentos.
Outro sinal de que algo está errado em se prescrever um tratamento precoce de disforia de gênero é o aumento significativo de casos de pessoas que perdem a motivação para a troca de gênero e acabam desistindo desse objetivo, ou seja, voltam a se identificar novamente com seu sexo biológico. A maioria desses casos são de meninas que queriam ser meninos, quando eram adolescentes, mas depois desistem. Se elas tivessem tomado bloqueadores e hormônios sexuais cruzados mais cedo, poderiam ter ficado estéreis por toda a vida, mesmo que não tivessem chegado ao ponto de realizar histerectomia (operação cirúrgica para remoção do útero).
São também numerosos os casos de “reversão da transição de gênero”, processo pelo qual as pessoas que foram submetidas a tratamento hormonal ou cirúrgico para mudar seu sexo se arrependem e decidem voltar à sua condição de nascimento.
Por esses motivos, os especialistas recomendam extrema cautela antes de decidir iniciar tratamentos desse tipo quando as crianças têm problemas de identidade sexual. Já existem vários projetos de lei sendo debatidos em vários países e em diversos estados americanos para proibir essa prática quando o jovem ainda não atingiu a maioridade. O uso de tais drogas levanta questões espinhosas sobre quem decide o que pode acontecer ao corpo de uma criança e por quê.
Segundo o Dr. Hruz, do ponto de vista médico decidir não oferecer terapia hormonal a crianças que sofrem de disforia de gênero "não é um julgamento" sobre a criança, mas uma questão de melhor opção de saúde médica. "É a opção com maior benefício, porque eles não serão expostos a todos esses danos que sabemos que sofrerão se seguirem em frente com os tratamentos hormonais”, disse ele.
A discussão fica polêmica entre os especialistas pela dificuldade de se obter um volume maior de dados concretos sobre o assunto. Por exemplo, os estudos acadêmicos que mostram um maior risco de suicídio entre crianças trans ainda não são considerados totalmente convincentes, principalmente porque as clínicas não publicam estudos suficientes sobre os efeitos dos vários tratamentos em seus pacientes. Há poucas pesquisas que comparam crianças que tiveram tratamento com aquelas que não tiveram. E é necessário um estudo maior para uma melhor compreensão dos efeitos a longo prazo dos bloqueadores da puberdade e da aplicação de hormônios. O ideal seria que toda criança tratada pudesse ser incluída em um estudo de acompanhamento a longo prazo.
Dada a ausência de métodos científicos confiáveis que diferenciem aqueles que realmente sofrem de disforia daqueles que sofrem de crises temporárias de identidade, o artigo na The Economist ressalta que é preciso levar em conta os dados dos estudos já existentes e melhorar a qualidade das informações que as famílias recebem.
Proibir bloqueadores da puberdade em todas as circunstâncias seria injustificado. Não só seria ruim para algumas crianças, mas também deixaria o problema permanentemente obscurecido por falta de novas pesquisas. No entanto, a onda atual de se indicar esse tipo de tratamento sem muita cautela parece uma moda passageira. Muitos adolescentes se sentem descontentes com a maneira como foram criados, e a transição pode ser um consolo para alguns. Mas para outros será um erro terrível.
Por isso é necessário um debate público menos ideológico, focado acima de tudo nos interesses do menor. O perigo de transformar os direitos trans em um campo de batalha impede a discussão sobre os perigos de prescrever bloqueadores da puberdade e hormônios em crianças que sofrem de disforia de gênero e, portanto, podem acabar prejudicando aqueles que deveriam ajudar.
Segundo o Dr. Allan Josephson, professor e chefe de divisão de Psiquiatria da Criança e do Adolescente na Universidade de Louisville, em Kentucky (EUA), é necessário antes de tudo analisar o elemento psicológico da disforia de gênero na infância, dado que, na sua raiz, esse tipo de distúrbio é um fenômeno social e psicológico. Por isso, ele recomenda que não se deve entrar com terapias hormonais antes de uma investigação completa das causas psicológicas básicas subjacentes à disforia, justamente para que se defina qual o tratamento mais eficaz antes de começar.
Numa conferência (outubro/2019) sobre Disforia de Gênero em Crianças, na Heritage Foundation, em Washington, o Dr. Josephson citou o caso de um paciente que o procurou para aconselhamento sobre disforia de gênero e acabou descobrindo feridas profundas de abuso infantil subjacentes ao seu desconforto. “Quando os médicos veem dor ou angústia no paciente, devemos tentar descobrir as causas e mapear um tratamento, não podemos ignorá-lo", disse. E, “acima de tudo, as crianças que sofrem de disforia de gênero precisam ser apoiadas e amadas. É claro que você pode apoiar e amar uma criança, mas você não deve apoiar uma má ideia."
Fontes:
https://www.economist.com/leaders/2020/01/30/what-to-do-about-puberty-blockers
https://www.aceprensa.com/familia/cuidado-con-las-prisas-en-la-reasignacion-de-genero/
https://cruxnow.com/cna/2017/10/no-science-behind-transgender-therapy-kids-doctors-warn/