Tóquio, 12/01/2006 - O Japão está muito longe de tornar realidade o sonho da igualdade de gênero, mas a dramática redução da população nacional obriga o governo a tomar medidas para abrir mais espaços às mulheres e incentivá-las a ter mais filhos.
"O alerta amarelo está acesso", disse o ministro da Saúde, Jiro Kaqasaki, referindo-se ao baixo índice de natalidade e aos seus efeitos sobre a economia do país, na medida em que escasseará a mão-de-obra. O governo reconhece que as consequências da queda da natalidade (que no Japão é atualmente de 1,29 filho por mulher) poderiam ser contornadas, em parte, aumentando as possibilidades profissionais da mulher ou aumentando a idade de aposentadoria de 65 para 70 anos.
Outra forma de responder à escassez de trabalhadores é que nasçam mais crianças, por isso o governo também se mostrou interessado em ver como poderia ajudar e incentivar as famílias nesse sentido. Porém, as mulheres se mostraram reticentes. "É bom ouvir do governo que se deve ajudar as mulheres para aumentar a população. Mas ainda há muito a ser feito antes que estas possam decidir se no Japão existem as condições apropriadas para ter mais filhos", disse Yuko Ashino, uma especialista em reprodução e ex-diretora do Instituto de Planejamento Familiar do Japão. Ashino diz que as mulheres japonesas não têm mais filhos porque se sentem angustiadas e preocupadas com o futuro e estão desiludidas por pensarem que o governo não faz o que deveria fazer.
O Japão investe menos de 2% de seu produto interno bruto para ajudar na criação dos filhos, o que é muito pouco se comparado com os mais de 2,5% investidos pela Grã-Bretanha. "As mulheres necessitam de um ambiente no qual possam formar uma família e continuar trabalhando sem que isto signifique uma carga econômica exagerada. Tampouco querem que a responsabilidade de cuidar dos filhos recaia exclusivamente sobre seus ombros. Entretanto, o governo ainda não nos disse como pode aliviar essa nossa carga", acrescentou Ashino.
A queda do índice de natalidade é um problema persistente e vem ocupando o governo japonês há muito tempo. Na década passada testou-se todo tipo de programa, mas sem sucesso, segundo os especialistas. Por exemplo, o Ministério da Saúde propôs o Plano Anjo, uma iniciativa para financiar a expansão do número de estabelecimentos com jardim de infância para os filhos das mulheres que trabalham fora de casa. O plano foi implementado durante a década de 90 e aumentou o número desses estabelecimentos para 24 mil em todo o país. Porém, não atingiu seu objetivo final, e espera-se que a população do Japão diminua dos 128 milhões de habitantes atuais para 100 milhões em 2050, se nada acontecer para mudar a situação.
O índice de natalidade está caindo a um ritmo extremamente acelerado se comparado com os da Europa e dos Estados Unidos, segundo um informe divulgado no mês passado pelo Instituto Nacional de População e Seguro Social. Os jovens dizem que não querem ter filhos porque não têm dinheiro para casar nem para financiar a educação das crianças, afirma o mesmo documento. O número de casais que se uniram em 2005 foi de 713 mil, o que representa um quarto antes da queda. Além disso, 70% das mulheres com filhos querem maior ajuda para a educação.
Sumiko Shimizu, uma ex-legisladora que atualmente participa de um grupo de mulheres que promovem a igualdade de gênero, pensa que estes dados refletem a brecha entre as expectativas do governo e as mudanças culturais e no estilo de vida das mulheres japonesas, a chave da diminuição da população. "As mulheres jovens querem ter um trabalho (fora de casa) e desfrutar de um estilo de vida independente. O matrimônio no Japão traz consigo uma pesada responsabilidade social, o que explica o motivo de elas evitarem se casar e ter filhos", disse Shimizu.
Akiko Yahagi, uma mulher de 30 anos, confirma esse dado. Ela obteve um título de relações internacionais em seu país e depois passou três anos nos Estados Unidos estudando desenho.
Agora, trabalha em um banco estrangeiro e confessa que o casamento é apenas um sonho distante. "Estou muito ocupada desfrutando meu trabalho para poder iniciar uma família. Talvez quando tiver 40 anos me decida a aceitar essa responsabilidade", explicou. Por outro lado, Sumiko Shimizu também culpa a crescente competição global entre as companhias japonesas, que as levam a reduzir os custos com pessoal contratando mulheres por meio período.
As mulheres são a metade da força de trabalho do Japão, mas mais de 60% estão empregadas em tempo parcial. "A tendência nas empresas privadas é contratar mulheres em tempo parcial para reduzir custos como pagamentos extraordinários e férias pagas. Duvido que isto vá mudar, na medida em que o Japão enfrenta maior competição no mercado global", disse Shimizu. Por sua vez, Katsuya Saito, funcionário encarregado de um novo órgão do Ministério da Saúde denominado Apoio à Criação dos Filhos, diz que o governo central pretende adotar uma série de medidas históricas para mudar a situação e começar a reverter a tendência.
Os planos incluem duplicar as pensões familiares atuais a partir de abril e dar o equivalente a US$ 100 por mês aos casais que tenham um terceiro filho. Também está sendo preparada uma série de novas regulamentações para pressionar as empresas a reduzirem a jornada de trabalho tanto para as mulheres quanto para os homens para que possam compartilhar as tarefas domésticas e as responsabilidades familiares em geral. "O governo agora reconhece que a chave de um índice de natalidade mais alto reside no fato de tornar mais fácil para as mulheres trabalhar fora de casa e ter uma família. Nossos novos planos ajudarão a mudar a situação", disse Saito.
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