Heloísa Helena contra o aborto e a favor de tudo o mais
Uma notícia curiosíssima: Heloísa Helena, candidata à presidência pelo PSOL, declarou ser contra o aborto. Em entrevista ao jornal Opção (Goiânia), lia-se a declaração: “Me considero uma feminista de carteirinha, mas sou contra”. A declaração é de setembro de 2005, porém veio à tona agora, quando militantes revoltados com a postura da candidata resolveram pedir contas publicamente.
Na entrevista, Heloísa Helena acrescentou, quando perguntada se a mulher não tinha “autonomia” sobre o próprio corpo: “É um falso debate. Por exemplo, se eu tivesse total autonomia sobre o meu corpo, eu poderia tirar um feto com apenas um mês e meio de vida, com dois meses, com três meses, ou com cinco meses, não faria diferença. Se eu posso esvaziar do meu corpo qualquer coisa que eu não queira, então não faria sentido estabelecer limites para o aborto. E, como sou da área de saúde, não posso dizer que a vida só começa com a formação do cérebro ou de outras partes do corpo. Isso, biologicamente, é inaceitável.”.
Também numa entrevista concedida ao Jornal da Globo, no dia 31 de Agosto de 2006, Heloísa Helena praticamente repetiu esse discurso:
Christiane Pelajo (jornalista): Candidata, a senhora procurou apoio dos movimentos feministas, também de setores da Igreja Católica. A senhora costuma dizer que aprendeu o socialismo na Bíblia. A senhora é contra ou a favor da realização de abortos na rede pública de saúde, e em que condições?
Heloisa Helena: Olha, eu já disse várias vezes que eu sou contra o aborto. Se alguém acha que ser de esquerda ou ser feminista é ser favorável ao aborto, então me incluam, os aborteiros do país, na estrutura da esquerda.
Christiane Pelajo: Quer dizer então que a senhora não encampa a bandeira do movimento feminista que prega exatamente a liberdade da mulher sobre o próprio corpo?
Heloisa Helena: Meu amor, deixa eu dizer uma coisa: a liberdade da mulher sobre o seu próprio corpo existe. Meu amor, um movimento de mulheres tem todo o direito de continuar lutando. Eu não vou dizer que você ou qualquer outra mulher é melhor ou pior porque fez aborto ou deixou de fazer aborto. Eu acho que nós mulheres somos filhas do mesmo Deus, irmãs na mesma pátria. Então, não tem nada a ver com pecado, com nada. A minha concepção de modernidade, ela não se relaciona (com o aborto)... no ano 2006, com toda a tecnologia que foi produzida, com todo o conhecimento que foi produzido, alguém achar que é uma bandeira moderna curetar uma vida? Para mim, do ponto de vista científico e do ponto de vista espiritual, eu sou contra o aborto.
William Waack: A célula-tronco é um desses temas onde há uma série de conflitos religiosos, éticos e morais. Por que não é, na sua opinião, e qual é a sua posição a respeito?
Heloisa Helena: Não é. Não é. Porque eu sou absolutamente favorável às pesquisas de célula-tronco, como toda a Igreja Católica, Evangélica, Espírita que eu conheço é favorável ao uso de pesquisa de células-tronco. Não tem nada a ver célula-tronco do cordão umbilical, célula-tronco das estruturas celulares de uma pessoa com a utilização do embrião humano. Se vendeu uma farsa técnica à população de uma forma geral, vendendo para a união pública que a destruição do embrião era a única forma de fazer pesquisa com célula-tronco. Manipularam de tal forma...
Christiane Pelajo: A senhora é contra pesquisas com célula-tronco embrionária, então?
Heloisa Helena: Sou contra. Porque não existe nenhuma demonstração concreta, não foi feita nenhuma pesquisa que mostre a necessidade de que se faça isso (destruir o embrião para a retirada da célula-tronco). Todos os dias no país, todo cordãozinho umbilical de cada criança que nasce, em todo o Brasil, aquilo ali é pesquisa de célula-tronco que pode ser feita.
Embora seja favorável à legalização da equiparação da união homossexual com a heterossexual (leia-se casamento gay) e à todo tipo de método contraceptivo, Heloísa Helena é uma voz solitária no partido em relação ao aborto. De acordo com o Relatório do I Seminário Nacional de Elaboração Programática do PSOL pode-se ler:
“Especial atenção para a questão do aborto. No Rio de Janeiro 90% das mortes ocorridas nas maternidades são evitáveis, índice que não é muito diferente nos outros estados. Exigir atendimento público de qualidade respeitando a opção individual da mulher.”
“Combate à homofobia e à discriminação e repressão policial e social motivadas pela opção sexual dos indivíduos”.
Nesse último caso, por trás do discurso politicamente correto deve-se ler: casamento gay, claro.
Curioso é que, sendo uma das fundadoras do PSOL, com certeza a candidata teve participação na elaboração do programa do partido.
É possível que a candidata seja “contra” o aborto, mas favorável à descriminação do aborto, respeitando a “opção” da mulher.
Publicado no Portal da Família em 14/09/2006 |