Por Gerardo Castilho
Um objetivo muito importante dentro do âmbito
da educação familiar é o cultivo da amizade. Trata-se
de levar os filhos a saber o que vem a ser a amizade e a distinguir os
amigos autênticos dos falsos. Mas, além de idéias
claras e de critérios corretos sobre este tema, os filhos devem
ser também capazes de fazer amizade e de ser bons amigos.
O cultivo da amizade está intimamente relacionado com dois objetivos
ainda mais amplos: aprender a querer bem às outras pessoas e aprender
a conviver. São duas capacidades que se desenvolvem de modo natural
na família, na medida em que esta última é lugar
de amor e escola das virtudes da convivência.
A influência do ambiente familiar costuma ser decisiva para o desenvolvimento,
primeiro do comportamento social e depois dos hábitos de amizade.
É verdade que o ambiente extrafamiliar - os colegas de estudo,
da rua, etc. - pesa cada vez mais, mas os pais e os irmãos continuam
a ser os principais agentes de socialização da criança,
principalmente nos primeiros anos de idade.
Deve-se frisar, por isso, o impacto que as primeiras experiências
sociais vividas no lar têm para os filhos. Se essas experiências
forem gratas, eles tenderão a repeti-las, desenvolvendo assim atitudes
de abertura para com os outros e hábitos de convivência.
Se, pelo contrário, forem desagradáveis, procurarão
evitá-las.
As experiências sociais positivas ajudam fortemente os filhos a
ser ativos, extrovertidos, independentes e curiosos; as experiências
sociais negativas levam-nos a ser passivos, dependentes, introvertidos
e reservados. As crianças do primeiro caso estarão em condições
de influenciar os outros - terão liderança - e de ser criativas;
as crianças do segundo serão, provavelmente, mais influenciáveis
e conformistas.
De que depende que as experiências sociais vividas no lar fomentem
ou não a atitude dos filhos para a convivência?
Um dos fatores é o caráter global do lar.
Quando o ambiente da casa se caracteriza pela tensão e pelo atrito
habituais, é muito provável que isso gere atitudes sociais
negativas nos filhos. Pelo contrário, quando se respira um clima
de compreensão entre os membros da família, os filhos desenvolverão
atitudes positivas.
Outro fator é o das condutas que os filhos observam em casa.
Os pais e os irmãos mais velhos são modelos de conduta que
os filhos pequenos observam e imitam continuamente. É bom, por
exemplo, que possam observar comportamentos que denotam preocupação
pelos outros, compreensão, ajuda, flexibilidade... Os filhos percebem
igualmente se o pai e a mãe se relacionam entre si com a benevolência
e o altruísmo próprios do amor e da amizade, se têm
ou não amigos, se sabem encontrar tempo para a amizade, se são
generosos, sinceros, respeitosos e leais com seus amigos.
Um terceiro fator é o valor que os pais dão ao fato de
os filhos serem sociáveis e terem amigos. Muitos pais encaram
o tema da amizade como algo secundário. Ignoram assim que, como
disse Aristóteles, os amigos são o que há de mais
importante na vida. Ignoram que as relações de amizade ajudam
as pessoas a conhecer-se, corrigir-se e superar-se em todos os aspectos.
Se os pais, por exemplo, não permitem que os seus filhos tragam
para casa companheiros de diversão e amigos, estarão aplicando
uma nota negativa à conduta social dos filhos. Para que as crianças
pequenas se desenvolvam como pessoas sociáveis, é preciso
animá-las a sê-lo e premiar os esforços que façam.
Mas isso apenas não basta, apesar de já ser algo bom: é
preciso ensiná-las também a comportar-se de um modo socialmente
aceitável. Uma forma de estimular os filhos à abertura para
os outros é convencê-los com fatos de que vale a pena. É
bom que vejam, por exemplo, que os seus irmãos e companheiros de
estudo se comportam melhor com eles quando são tratados com generosidade
e pior quando são tratados de maneira agressiva.
Um quarto fator para ajudar os filhos a desenvolver atitudes de convivência
e amizade é a participação na vida da família.
Existem lares participativos e lares não-participativos. Nos primeiros,
há muita comunicação pessoal entre pais e filhos
e entre irmãos. Os pais explicam o motivo por que existem certas
regras na família, os filhos são consultados antes que se
adotem algumas decisões que os afetam diretamente, pais e filhos
colaboram nas tarefas domésticas... Nesses lares, existe um clima
de confiança e diálogo espontâneo e sincero, como
é próprio da vida de família. As decisões
dos pais não são caprichosas ou arbitrárias.
No lar participativo, os filhos são premiados pelo espírito
de iniciativa, expressão espontânea, participação
nas conversas e na tomada de decisões familiares. Como conseqüência,
são criativos, originais, desenvoltos e abertos. No lar não-participativo
ou excessivamente controlado, os métodos de educação
são autoritários. Existem restrições taxativas
da conduta sem nenhuma explicação e sem referência
a critérios objetivos e estáveis. Os filhos não têm
oportunidade de exprimir a sua opinião ou o seu ponto de vista.
É próprio do lar não-participativo castigar os filhos
que manifestam curiosidade e espontaneidade ou que tentam fazer valer
as suas opiniões. E, por outro lado, premia-se a conduta submissa,
dependente e impessoal.
Os pais que estão seriamente preocupados em desenvolver nos filhos
hábitos de convivência e atitudes de amizade devem perguntar-se
até que ponto o ambiente familiar caminha nessa direção.
Proponho seis pontos para este auto-exame:
1. Há distância ou há relações amistosas
entre os membros da família?
2. Controle autoritário ou clima de participação?
3. Individualismo ou cooperação no trabalho e no lazer ?
4. Punição ou gratificação das condutas sociais
dos filhos?
5. Casa fechada ou casa aberta aos amigos dos filhos?
6. Pais sem amigos ou pais com amigos?
Gerardo Castilho é professor de Pedagogia e Psicopedagogia da Universidade
de Navarra e pesquisador do Instituto de Ciências da Família
da mesma Universidade, além de professor visitante de diversas
Universidades espanholas.
Extraído do livro "Educar
para a amizade", Editora Quadrante
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Um objetivo muito importante dentro do âmbito da educação
familiar é o cultivo da amizade. Trata-se de levar os filhos a
saber o que vem a ser a amizade e a distinguir os amigos autênticos
dos falsos.
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