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Internet: Conhecimento ou informação
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Globalização e comunicação Se o leitor desejar saber o que é "Globalização", sugiro que não procure na Internet. Ao colocar o termo em inglês (Globalization) em um dos sites de procura mais utilizados na rede - o Google - o leitor obterá 1.100.000 referências (consultado em 18/7/02) em apenas 0,16 segundos. Imaginando que o leitor fosse gastar apenas "3 minutinhos" pesquisando em cada uma das fontes do termo "globalization" é possível calcular o tempo que utilizaria consultando a Internet. Na hipótese de que o leitor não desgrudasse do computador até abrir todos os sites, gastaria 3,3 milhões de minutos, ou 55.000 horas, ou 2.291 dias ou 76 meses, ou 6 anos e quatro meses. Caso o leitor trabalhasse oito horas por dia, cinco dias por semana e onze meses por ano -afinal todo mundo precisa de férias - o leitor necessitaria de aproximadamente 28 anos para completar a consulta. Deixando de lado os anos da infância, que com certeza seriam os mais felizes da sua vida, o pesquisador teria passado metade da vida na frente do computador. Concluída a busca na Internet, o pesquisador precisaria analisar os dados coletados para tirar as conclusões. Se tiver dúvidas quanto aos resultados obtidos, de uma coisa poderia ter certeza: ter perdido metade da sua vida. Talvez seria melhor concluir que teria perdido a vida inteira. Como as informações da rede se renovam e aumentam a cada dia, o pesquisador, como um novo Sísifo, estaria condenado a nunca concluir o seu trabalho. Se Heráclito vivesse hoje, provavelmente faria um upgrade da sua filosofia e exemplificaria o célebre "tudo muda" (panta rei), afirmando: "você nunca faz a mesma pesquisa na Internet". A Internet é uma ferramenta poderosa, mas é preciso saber como servir-se dela. Armas poderosas exigem especiais cuidados no uso e manuseio. Podem prestar grandes serviços e trazer inúmeros benefícios, mas é preciso ter em conta que seu poder destruidor também é proporcional ao seu potencial benéfico, principalmente para os mais jovens. Conhecimento e informação Milhões de informações não representam nenhum conhecimento. Ainda hoje vale a definição de ciência de Aristóteles, formulada na sua obra, Organon, como conhecimento certo pelas causas. Para saber algo em profundidade é preciso relacionar conceitos, saber as causas, o porquê das coisas. Este é um dos grandes dilemas do novo século, impulsionado pelo rápido e fácil acesso a fontes de informação. Podemos obter instantaneamente milhões de informações, mas corremos o perigo de tornar-nos incapazes de processá-las de um modo orgânico, integrado, coerente, através da relação causa-efeito que caracteriza o conhecimento científico. Entretanto, não é esse o desafio mais grave que enfrentamos, pensando particularmente na educação dos jovens. O verso anterior, do mesmo poema de Eliot, levanta uma questão mais profunda e importante, quando indaga: "Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento?" A ciência ofuscou a procura da verdadeira sabedoria, da sabedoria cultivada na Grécia antiga pelos filósofos que buscavam saber coisas essenciais, as primeiras causas, os primeiros princípios, a origem de todas as coisas e, mais importante ainda, o sentido da vida e da existência. A essa tarefa Sócrates dedicou a sua vida e, por defender sua missão, foi condenado à morte. É Platão quem colocou na boca de Sócrates as seguintes palavras: "outra coisa não faço senão andar por aí persuadindo-vos, moços e velhos, a não cuidar tão aferradamente do corpo e das riquezas, como de melhorar o mais possível a alma, dizendo-vos que dos haveres não vem a virtude para os homens, mas da virtude vêm os haveres e todos os outros bens particulares e públicos" (Defesa de Sócrates, Abril Cultural, p.15). Assistimos perplexos a um distanciamento cada vez maior entre educação e formação, principalmente na educação dos jovens. Crianças e adolescentes recebem oceanos de informações prontas, desconexas, e muitas vezes fúteis, que são incapazes de processar e integrar em um projeto de crescimento em conhecimento e sabedoria. A informação não é formação. O simples acúmulo de informações, onde o raciocínio não tem lugar e a reflexão ética não encontra espaço, está longe de contribuir para forjar a personalidade e nortear a vida. As considerações precedentes são apenas um exemplo para ilustrar a questão da globalização, mas um exemplo significativo do paradoxo da evolução das comunicações em relação aos ideais da cultura humana. * José Maria Rodriguez Ramos é Coordenador do Curso de Ciências Econômicas da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Fonte:
INTERPRENSA - ANO VI - Número 61 - www.interprensa.com.br |
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