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João Malheiro, educador
Coluna "Pinceladas Educacionais"

A importância do tutor no ensino médio

João Malheiro

Tutoria pode ajudar o jovem na escolha da carreira

Nos últimos anos, tem-se notado um crescimento assustador na indecisão ou dúvida na escolha de um curso de nível superior nos alunos do Ensino Médio. É possível afirmar que a grande maioria dos alunos, principalmente no início do terceiro ano, sofre com essa situação.

Analisando o comportamento de adolescentes do Rio de Janeiro e São Paulo que enfrentam essa dificuldade, pude descobrir algumas das suas principais causas:

- um adormecimento da liberdade dos alunos. A educação de hoje faz com que os pais ou responsáveis assumam muito as decisões dos filhos, impedindo que amadureçam. Essa atitude deixa adormecida a liberdade dos alunos ("qual carreira seguirei?"), dificulta a descoberta do seu ideal profissional e provoca uma falta de compromisso para com os estudos;

- a falta de esforço: o jovem de hoje não é educado para exercitar-se no esforço desde cedo, mas, pelo contrário, para fugir das exigências e responsabilidades, associando felicidade ao prazer imediato e à vida fácil. Muitos ideais só brilham no horizonte do estudante quando existe uma base de maturidade humana que se consegue com o hábito constante de reflexão, associado a uma vida dinâmica e exigente;

- a ausência de modelos positivos. Falta-lhe, muitas vezes, na sua família e nos seus amigos modelos positivos que lhe estimulem o desejo de imitá-los. Quando faltam valores humanos na educação de um jovem, sua chance de tornar-se um homem e um profissional torna-se bem mais difícil;

- desconhecimento prático das diversas possibilidades universitárias. Há casos em que os pais não têm tempo ou preparo para dialogar com os filhos a respeito desse tema e delegam esta função totalmente à escola. Esta, atarefada com inúmeras preocupações próprias do ensino e do controle administrativo, não consegue atender satisfatoriamente aos alunos.

- pouco conhecimento pessoal. Os alunos desconhecem as características do próprio temperamento e as qualidades humanas que poderiam adquirir. Quando somos ajudados a nos conhecermos - quais meus pontos positivos (virtudes), quais meus pontos fracos (defeitos), por que tenho tais atitudes e reações - e, depois, estimulados a lutar para melhorar, muitos dos obstáculos no estudo desaparecem;

- visão voltada para o mercado de trabalho. Mais do que uma escolha baseada em seus talentos e aptidões, muitas vezes o que define a decisão do aluno é o que os pais ou amigos valorizam ou qual atividade oferece mais oportunidades de emprego.

Uma solução inovadora e prática para uma escola que queira destacar-se em relação às demais é a presença de uma nova figura: "nova" no sentido de não existir no Brasil, mas com muito sucesso nos Estados Unidos e Europa: o tutor. Sua atuação no colégio seria, paralela e conjuntamente com os orientadores educacionais, a de um autêntico técnico do estudo dos alunos. Teria cinco funções:

- conversas individuais com os alunos, para estimular e acompanhar os seguintes itens, regularmente: a) ideal universitário: grau de motivação e de conhecimento da carreira que o aluno tem em vista; b) horário de estudo: quantidade de horas que estuda por semana e como se organiza para conciliá-las com outras atividades extra-curriculares; c) deficiências no estudo: a falta de motivação no estudo nasce quando não se aprendem formas inteligentes de estudar, de assimilar o aprendizado e de realizar uma boa pesquisa; d) otimização das características temperamentais: como o aluno pode desenvolver e melhorar seu temperamento; e) notas escolares: soluções para melhorá-las; f) nível de cultura geral:

- uma aula semanal sobre temas próprios da tutoria;

- organização de visitas e palestras com profissionais: visitas a faculdades, empresas, escritórios e personalidades da futura área profissional;

- troca de informações com orientadores e professores;

- incentivo à cultura: acompanhamento de livros de literatura que o aluno leu e sugestões; visitas a museus, concursos de artes e demais atividades.

Conversando com diretores de escola e professores universitários sobre esta proposta, todos se mostraram interessados em implementá-la nas suas escolas.

É um caminho a ser aberto e estudado no Brasil, mas, em se tratando de um tema que tanto angustia os jovens, a implementação do tutor é uma das saídas para que a escolha da carreira profissional seja feita com mais certezas do que dúvidas.

Fonte: INTERPRENSA - ANO V - Número 44


Professor animado

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João Malheiro é doutor em Educação pela UFRJ e diretor do Colégio Porto Real, Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. É autor de vários livros como "A Alma da Escola do Século XXI", "Fortalecer a Alma da Escola" e "Escola com Corpo e Alma", da Editora CRV Ltda. É palestrante sobre vários temas de educação em colégios e universidades. Especialista sobre Valores e virtudes ética na escola. No final de 2017, lançou o seu quarto livro - A PRECEPTORIA NA ESCOLA. UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA DE SUCESSO, finalizando sua "tetralogia".

E mail: joao.malheiro@colegioportoreal.org.br

Publicado no Portal da Família em 23 de maio de 2003

 

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