Por FLORIANO SERRA
Sábado passado estava em um supermercado quando
encontrei com um amigo que conheci algum tempo atrás, quando dava
consultoria a uma empresa. Há quase dois anos esse meu amigo está
desempregado - e olhem que é um sujeito muito competente e com
excelente formação acadêmica, com MBA, vivência
internacional e tudo o mais.
Sua "incompetência"? Ter 45 anos de idade.
Pedi-lhe que me encaminhasse um currículo e no texto do e-mail
que me enviou horas depois, um trecho me chamou a atenção
- para dizer a verdade: me chocou.
Dizia textualmente:
"Nesta semana, contatado por um headhunter
para uma vaga de gerência e tendo preenchido todos os requisitos
do perfil do cargo (... ) fui informado de que talvez não possa
prosseguir neste processo, pois simplesmente estão em busca de
um SER HUMANO entre 28-40 anos!!!"
Não é primeira nem a última vez
que volto a tocar no assunto do preconceito ainda reinante na maioria
das empresas com relação à idade dos candidatos.
Por isso, não vou me dar ao trabalho de apresentar os dados e argumentos
contra essa incompreensível discriminação, que citei
em um artigo anteriormente publicado aqui, chamado "Com
que idade você está velho para o mercado?". Quem
se interessar pelo assunto, basta consultar a relação dos
meus artigos anteriores neste mesmo site.
Mas antes de prosseguir, quero fazer um esclarecimento: espero que nenhum
leitor pense que estou fazendo propaganda da empresa onde sou o Diretor
de Recursos Humanos e Qualidade de Vida, mas não posso resistir
à tentação de informar a todos os empresários
e responsáveis pelas áreas de Recursos Humanos, que acabamos
de contratar o Sr. Meireles, que tem 70 anos de idade. Vou repetir para
o caso de alguém achar que não leu direito ou que ocorreu
um erro de impressão: MEIRELES, NOSSO MAIS
NOVO FUNCIONÁRIO, TEM SETENTA ANOS DE IDADE. Com carteira
profissional assinada e tudo o mais que manda o figurino trabalhista,
este bravo cearense está compartilhando sua vasta experiência
comercial com o nosso pessoal de Vendas e só tem recebido elogios
da equipe. Estamos todos muito satisfeitos com o desempenho do Meireles
- que, aliás, tem demonstrado uma enorme disposição
para o trabalho e uma incrível habilidade no manuseio do seu Notebook.
Eu não tenho a menor idéia de por quanto tempo os neurônios
humanos preservam intactas as informações, experiências
e conhecimentos adquiridos ao longo do tempo. Mas posso assegurar a vocês,
a julgar pelo desempenho do nosso mais novo funcionário, que não
são apenas por 70 anos.
Costumo comparar a experiência com a liberdade: uma vez conquistadas,
jamais as esquecemos - e o passar dos anos só nos faz aumentar
o desejo de praticá-las. Nada mais penoso para o profissional que
é marginalizado pelo mercado apenas por ser "idoso" do
que ter a plena consciência do seu valor e da sua utilidade e, no
entanto, ver seu tempo escoar-se em recordações e lembranças
concretas de um passado de glórias e homenagens - troféus,
placas, diplomas, prêmios - que hoje, quando manuseados, servem
apenas para tornarem seus olhos úmidos e o coração
pesado, com um sentimento que se aproxima muito da injustiça e
do vazio.
O que acho incrível é que já se esgotou o tempo para
o mercado de trabalho entender que não são as rugas nem
os cabelos brancos que determinam a competência de uma pessoa. Desafio
a quem me apresente um argumento cientifico válido a este respeito.
E uma outra coisa que também é muito preocupante com relação
a este absurdo preconceito: de acordo com o ocorrido com o meu amigo,
parece que a cada dia que passa diminui o limite máximo de admissão
- já chegamos ao surrealista número de 40 anos de idade!
Acho a juventude maravilhosa: quanta saúde, vibração,
energia, disposição e quanto desejo de realizações
e conquistas. Mas, que me entendam os jovens, a questão da competência
ainda está (e continuará assim por muito tempo) condicionada
à da vivência pessoal e profissional - e essas vivências
só são obtidas com o passar do tempo, através de
experiências sabiamente vividas. Claro, sei que experiência
não é tudo. Já li em algum lugar que "experiência
não se mede pelo tempo de anos vividos, mas pelo que se fez com
esse tempo".
No entanto, se experiência não é tudo, o conhecimento
acadêmico também não o é. Muito longe de se
auto-excluirem, experiência e conhecimento na verdade se complementam
e se ajudam mutuamente.! É por isso que, para nós, o fator
idade não tem a menor importância. Tanto que, se por um lado
contratamos um profissional de 70 anos, por outro temos centenas de jovens
no nosso quadro de colaboradores. Porque a nossa estratégia é
simples e tem se mostrado eficaz a julgar pelos bons resultados que vêm
sendo obtidos: somar ao vigor e impetuosidade dos jovens a experiência
dos mais velhos e vice-versa. Posso garantir que essa mistura dá
um belo casamento.
Cada idade tem sua competência específica. Do ponto de vista
exclusivamente profissional, sem necessidade de atitudes paternalistas,
é fácil perceber que há perfis de cargos que se adequam
a idades diferentes. O que, no frigir dos ovos, não se constitui
em nenhuma novidade. Como há muito tempo disse o escritor alemão
Georg Lichtenberg (1742-1799), em "Aforismos":
"Não fosse a lembrança da mocidade,
não se lamentaria a velhice. (...) Pois o velho, em seu gênero,
é decerto uma criatura tão perfeita como o moço na
sua".
(*) Floriano
Serra é psicólogo, Diretor de Recursos Humanos e
Qualidade de Vida da APSEN Farmacêutica e presidente do IPAT
-Instituto Paulista de Análise Transacional (www.ipat.com.br)
e da SOMMA4 Desenvolvimento Pessoal e Organizacional.
(11) 5052.8002, florianoserra@terra.com.br
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Floriano Serra
www.ipat.com.br
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