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SENTIDO DA TRANSCENDÊNCIA

Clara Janés / Luz María de la Fuente

"Nos olhos dos jovens, há claridade; nos dos velhos, luz".
Jouvert.

Eu diria que essa luz própria do velho que soube envelhecer é a luz do mais além, o reflexo da outra Vida, da qual o ancião se foi aproximando degrau a degrau, até chegar tão perto que pode perceber o seu fulgor e transmiti-lo aos outros. Um velho assim vive já a outra Vida nesta vida.

Dizia o prof. López Ibor, na sessão de encerramento do primeiro Congresso de Gerontopsiquiatria Preventiva:

"Na velhice, chegou o momento de obter uma resposta à incógnita do que quereríamos ser no mistério que nos espera mais adiante. Nada pode conferir um ânimo mais sereno do que a experiência gerada pela sabedoria da ancianidade. E o mais importante é o sentido da transcendência. Este sentido compensa o ancião da solidão cósmica, leva-o a vencer a angústia da morte e a compreender o sentido da sua vida.

"A velhice encarada assim não é uma idade decrépita, mas enriquecedora. Na velhice, pode-se alcançar uma espécie de purificação que traz uma nova forma de liberdade e limpa resíduos imaturos da personalidade. E, por mais paradoxal que pareça, é a idade da plena maturidade".

A "idade da plena maturidade", sim, mas não se espere que essa maturidade e essa "sabedoria da ancianidade" sejam compreendidas pelo mundo. O mundo continuará na sua carreira desabalada, cada vez mais acelerada, cativando as gerações de adolescentes e de homens maduros com os seus paraísos semeados de vaidades, de luxo, de poderio, de oco divertimento e domínio intelectual - germes de falsidade e de soberba -, ou simplesmente oferecendo-lhes facilidades, limando-lhes as dificuldades, sossegando-lhes os escrúpulos, produzindo um conforto que lhes abafa o espírito de superação por meio de "coisas" e "mais coisas".

Tinha razão o prof. López Ibor ao mencionar a "solidão cósmica" do ancião, porque a sua luta não pertence ao mundo e o seu contacto com o mais além escandaliza os que estão fincados por inteiro na terra. Isto não lhe deve perturbar o espírito, mas fazê-lo erguer serenamente a cabeça e prosseguir. É o homem da esperança.

Outrora, recorria-se aos anciãos em busca de conselho; atualmente, considera-se importuna a sua intervenção. Também é preciso prepararmo-nos para isso e esperar. Esperar é a grande palavra de ordem da caridade: A caridade tudo sofre, é benigna, [...] tudo tolera, tudo espera... (1 Cor 13, 4-7).

Por amor aos que nos rodeiam, saberemos calar-nos, ainda que estejamos certos de ter razão; saberemos ser prudentes; saberemos sorrir e alegrar-nos interiormente, sejam quais forem as circunstâncias; saberemos estar dispostos a fazer o que nos peçam. E saberemos manter a nossa dignidade, firmemente persuadidos de que, no momento em que já não pudermos valer-nos por nós mesmos, mesmo então a nossa simples presença poderá ser essa luz que dá testemunho de amor, do Amor.

Não devemos vacilar, pois, na nossa luta, a mesma luta, ao fim e ao cabo, que empreendemos há tanto tempo, desde que entramos no uso da razão. Tenhamos a certeza de que o nosso testemunho é precisamente aquilo de que o mundo à nossa volta mais precisa.

E se ao longo da nossa vida tivermos sido capazes de conseguir este propósito, então, ao chegar também para nós a hora da velhice, encarnaremos com júbilo as palavras de Isaías:

Uma felicidade eterna transfigurará o seu rosto, acompanhá-los-ão a alegria e a felicidade, terão terminado a dor e a queixa.
(Is 35, 10)



Fonte: "Aprender a Envelhecer", Clara Janés - Luz María de la Fuente, Editora Quadrante, São Paulo, 1994, pp.22-24.

 

 

 

 

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