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Floriano Serra

Coluna "Em Família"

Ciúmes em Família IV: Os ciúmes dos pais em relação aos filhos

André Pessoa

Se o ato de casar pressupõe mudança de vida, a rotina familiar experimenta outra reviravolta com a chegada do primeiro filho. Pode acontecer que ambos não estejam preparados e um dos cônjuges entre em crise de ciúmes pelo filho.

Antes a esposa era toda carinho e solicitude com o marido. Agora todos os mimos são dispensados ao bebê. A mãe focada em sua nova rotina não percebe que parou de roubar um beijinho carinhoso do marido, e esse se sente excluído.

As pessoas que não estão envolvidas com o dia a dia daquela família não entendem e se revoltam com essa reação do pai, por considerá-lo possessivo por sua esposa e pouco generoso para com seu filho, tão indefeso. O próprio pai se sente envergonhado com este sentimento e o esconde da esposa. Esta situação termina por se manifestar por meio de nervosismos, enfados e desarmonia no casal.

Há dois aspectos a serem considerados. O primeiro é o fato da mudança de rotina pressupor generosidade de ambos. Da mulher para seu filho e marido... e do esposo para sua esposa e filho. O bebê pode, sem querer, esgotar toda a generosidade de ambos. Esgotados e estressados, um mais que o outro, ambos esperam receber carinho e apoio do outro. A carência mútua gera um movimento de querer receber do cônjuge, maior do que o querer dar ao outro. Se ambos caem nessa armadilha, a decepção cria um afastamento mútuo.

Antes de nascer, a expectativa da chegada do bebê unia o casal. Durante o nascimento a alegria dos primeiros momentos também os une. Não deixa de ser um contra-senso que, depois do nascimento, o bebê seja motivo de desunião.

O segundo aspecto são as reais necessidades do bebê. Não há dúvidas de que precisa de banho gostoso, de leite quentinho, limpeza e ordem. Por outro lado, precisa antes e primordialmente da harmonia entre seu pai e sua mãe. O bem maior daquele filho é a união de seus pais.

Essas duas realidades não são antagônicas. Uma não exclui a outra. O bebê precisa de atenção, mas não se importa de deixar uma migalha para seus pais. Não é fácil, mas é possível dividir o tempo e a atenção. Criatividade, para que toda atenção seja dada à criança e ainda sobre tempo para namorar. Ta lvez com menor freqüência, mas é necessário continuar fazendo algo que antes costumavam fazer juntos, a sós, ainda que não tudo o que faziam.

O esforço de manter o calor da chama acesa é de ambos. Os pequenos detalhes muitas vezes demandam mais atenção do que tempo e alimentam o calor da união. Um sorriso, um beijo de boa noite, um gracejo, são formas de se dizer que se ama. Cuidar dos pequenos detalhes de carinho conjugal é algo que tem que estar sempre em primeiro plano para ambos.

Adicionalmente, o sentimento de exclusão do pai pode ser remediado se a esposa compartilha sua responsabilidade com o marido. Pedir-lhe ajuda, para juntos lidarem com as necessidades básicas do bebê. Manter o pai ativo e ocupado com funções antes só atribuídas à mãe. Afinal, fazer junto une.

Se ambos se esquecerem de dividir a responsabilidade sobre a criança desde cedo, pode acontecer que o sentimento de posse da mãe sobre a criança se propague vida afora. Este afã de posse da mãe seria ciúmes de seu filho em relação ao pai? Talvez. Por outro lado, ciúmes ou não, o efeito seria o mesmo, desunião do casal.

A criança só tem a ganhar quando o pai e a mãe compartilham a responsabilidade de sua educação. Ambos pensam melhor juntos. As mulheres são detalhistas e os homens têm pensamento estruturado. As mulheres enxergam além do que vêem e o homem tem visão estratégica. As mulheres decidem com acuracidade e o homem com impetuosidade, segurança e rapidez. A mulher conhece seu filho em detalhes e o homem o conhece objetivamente. Por serem duas pessoas que pensam tão diferentes, o acordo pode ser mais custoso. Por outro lado, o processo de amadurecimento da decisão a ser tomada a dois, é muito frutuosa e o resultado pode ser uma solução diferente e muito melhor para a criança.

Pai e mãe unidos em torno de seus filhos, este é o maior tesouro que tem uma criança, desde os primeiros momentos de sua vida.


Este artigo faz parte de uma série de textos intitulados Ciúmes em Família, de André Pessoa

Ciúmes em família 1: A chegada de um novo irmão

Ciúmes em Família 2: Entre irmãos

Ciúmes em Família 3: Brigas entre irmãos

Ciúmes em Família 4: Os ciúmes dos pais em relação aos filhos

Ciúmes em Família 5: Entre cônjuges

Ciúmes em Família 6: Entre namorados

Veja também a série:

Cabo de Guerra

Ver outros artigos da coluna


André Pessoa é pai de seis filhos, Mestrado em Orientação Familiar por Navarra, ministra cursos e palestras de Educação de Filhos desde 1995; Graduado pelo IME (Engenharia), Pós-Graduado pela PUC (Administração), FGV (Contabilidade Gerencial), ISE (Programa de Treinamento de Executivos) e Navarra (Orientação Familiar); Consultor da Accenture.
e-mail: andre.v.pessoa@gmail.com

Publicado no Portal da Família em 02/06/2013

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